03 junho, 2008

caminhos & labirintos





Hundertwasser, F.
der grosse weg,
1955










Caminho

Tenho sonhos cruéis; n'alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...

Porque a dor, esta falta d'harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d'agora,

Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.



Camilo Pessanha
Clepsidra
e outros poemas
Colecção Poesia
Edições Ática
1973

10 comentários:

O natural de Barrô disse...

Excelente post.
Bonito,intenso,profundo,toda a tua alma está condensada neste espaço.
Parabéns!

Bj

Justine disse...

Acho que foi o que mais gostei em Viena, as obras plásticas e os edifícios do Hundertwasser. Desconcertante!Inovador!
Quanto ao C.Pessanha - nem por isoo...

Anónimo disse...

belíssimo poema de um dos maiores autores de língua portuguesa :)

Duarte disse...

Uma vez mais essa harmonia à que nos estás habituando.
O lenço é de grande qualidade, é um Hundertwasser, e está tudo dito.
Não conheço muito ao senhor Pessanha, mas gosto. e muito, deste soneto.

poetaeusou . . . disse...

*
camilo pessanha
um dos preferidos,
,
conchinhas,
,
*

Rui Caetano disse...

Um poema profundo de um grande poeta.

luis lourenço disse...

UM lindo poema e uma bela imagem a condizer!...Maria do Sol.

abraços

JPD disse...

Belíssimo poema.

Manuel Veiga disse...

esta "luz desgrenhada". tão ... tão... apelativa!

mdsol disse...

Este post também mostra um pouco de mim sim...Mas também não mostra tudooooooooooooo!!!rsrsr
OU seja e agora de um modo mais sério: eu também sou assim!
:)