22 dezembro, 2008

porque é que não há presépio no branco no branco (4)





Goya, Francisco
asta su abuelo
(1890)


O branco no branco confessa que, quando foi ter com o burro, as expectativas cambaleavam de tanta ambivalência. Por um lado, e dadas as circunstâncias criadas pelas respostas anteriores, as expectativas de colaboração eram muito pequeninas. Por outro lado, burro é burro e poderia sempre querer fazer jus à sua proclamada teimosia e querer continuar a tradição dos seus avós, de participar activamente no aquecimento do ambiente do presépio.
Encontramos o burro a ler o que deixou o branco no branco logo de pulga atrás da orelha! (não é para fazer trocadilho com orelhas de burro). O burro tomou logo a iniciativa da conversa.
_Não! Não, não e não! Isto antes de o branco no branco dizer palavra!
_Não vou para o presépio e pronto. Ando muito ocupado com a minha educação. Digo mais, agora gosto mesmo é de música, estou a especializar-me em educação musical.
O branco no branco, ainda se atreveu a dizer que sim, que entendia, mas que no caso de querer mudar de profissão, estava a ver um burro mais no sector dos transportes, contudo, antes se decidir, seria aconselhável alguma ponderação na resposta porque a participação no presépio é de enorme significado pedagógico e com os novos desafios, as novas tecnologias e todas as mudanças sociais o significado da participação só aumenta dia a dia.
_Veja burro, simbolicamente, no presépio mostra-se o início da caminhada que o indivíduo faz desde que nasce até se tornar pessoa - argumentou o branco no branco com todo o empenhamento e simpatia que arranjou! Acalentar crianças é um desígnio nobre que, no modesto entender do branco no branco, merece todo o empenhamento e profissionalismo!
_ Nem pensar. Quero lá saber do presépio e do seu significado pedagógico. Estou-me nas tintas para ser profissional de participador em presépios. Tretas. Agora o que me importa é a música que é uma arte em que as escalas estão definidas há muito, não há cá estatutos novos e as notas valem todas o mesmo. E mais, vou dizendo desde já, isso da divisão da música em categorias, seja qual for o parâmetro da diferenciação, é um artifício de quem tem uma visão anti-democrática da educação musical.
O branco no branco estava a ficar pálido, se é que isso é possível. Mas o burro não parava, num frenesim tal que chegava a dar mostras de agitação.
_ E digo ainda mais, a música permite-me ainda entrar no campo da orquestração. E olhe, confesso que os "melga" concertos tipo Rock in Rio, com mais de 100.000 pessoas, não são ficção de burro. Já só sonho com a preparação de próximas orquestrações. Sabe que mais? Estar no presépio, a acalentar meninos, não dá currículo para as minhas ambições. O meu futuro não passa por ser pedagógico ou lá o que é isso que você falou. Eu não vou em cantigas de embalar meninos. A minha música é outra. O que eu quero (e a minha família parece achar bem) é ser o futuro maestro do Coro Geral dos Tocadores de Pandeireta.
Como se depreende não houve espaço para qualquer negociação.
Também sem burro a ideia de aqui nascer seja que presépio for, fica cada vez mais comprometida!

(to be continued... isto se houver tempo e a constipação e os afazeres adiados deixarem)

3 comentários:

Anónimo disse...

Se alguém está para aí a pensar em substitutos desde já me descarto...

cristal disse...

Cada vez mais empolgante... Quase me apetece desejar que a constipação continue!!! Claro que não me atrevo a tanto e desejo que mesmo com algum entupimento de nariz conrinues cada vez mais desentupidinha das ideias como cada vez mais te vais mostrando. Tens feito muito bem ao mau humor sombrio e o torcicolo finalmente começou a ceder... Bjs

virita disse...

Estou desejosa de saber novidades do burro...e o boizinho, onde pára?