23 março, 2008

confissão alargada...

Contrariamente ao tempo do Natal a Páscoa é um tempo que me aconchega...
Quando eu era muito pequenina a visita pascal era para mim um misto de admiração e desconstrução...admiração porque o sr. Abade ia a casa em clima de festa, tudo bem disposto....o brês cheiinho de ovos (e como o nosso brês era bonito e diferente dos outros)... e até tinha direito a envelope com nota dentro... desconstrução porque, afinal, o padre que eu via lá em cima no altar de costas voltadas, tão acima que só raramente se virava para nós, tão paramentado, a falar uma língua que eu não entendia e, mesmo quando falava a língua que eu entendia, só entendia o que o temor do inferno me explicava...afinal ali sentado, junto ao meu pai...era tão igual a nós...
Mas, tenho muito presente o gosto soberbo do anho assado e do arroz do forno (cabrito agora por aí? bahhhhhh), o sabor surpreendente do "pão podre", as bolachas de trevo quadriculadas de paciência, os "ésses" estranhos e as torradas da tia S., o creme (hoje chamado leite creme torrado).
Ah e as toalhas bordadas que a mãe colocava pelas mesas da sala, com aquele cheiro único da brancura corada ...
E as flores pela casa... aquelas dálias enormes de cores fortes (agora diria quase provocantes)...que eu ajudava a cortar no quintal
E o vestido novo que invariavelmente estreava, com laçarote no cabelo a condizer...e os imortais casaquinhos de malha que só a mãe conseguia fazer... (a recordação dos ameladinhos é a que me enternece mais). E o meu irmão, lindo de morrer, com roupa a propósito que não durava meia hora limpa e composta, para desespero da minha mãe e...
E a correria entre as casas dos tios, primos e amigos (do Eirô, à Fonte, a Cavaleiro...) para os cumprimentar, é certo, mas também para somar o maior número de beijos na cruz que, nesse dia lavado, estava enfeitada com flores...
O chá e/ou o vinho fino servido a quem nos acompanhava durante a visita pascal a nossa casa e a pressa inevitavel das primas que ainda tinham de subir até ao B. A prima Miquinhas...sempre presente e que ficava para jantar.

(neste tempo em que eu era muito pequenina ainda nos faltava algo em casa que, como se haveria de ver, foi muito importante...oh luaaaaaaaaaa)

Aditamento: (está no comentário mas devia estar no post)

E as laranjas da Senhora Comadre trazidas a pé, de tão longe ...e o pão fino de Covelinhas transportado a cavalo...

4 comentários:

Tinta Azul disse...

E as laranjas para a Senhora Comadre vindas de tão longe a pé...e o pão fino de Covelinhas vindo a cavalo...

Tinta Azul disse...

e o que faltava...mas não tardou :))
Beijo

Anónimo disse...

Só vós (ambas duas)para me porem os olhos húmidos a estas horas... Abraços. Mia

Anónimo disse...

(roidinha de inveja....)

enquanto as amigas sonhavam com o pricipe encantado eu substituia o dinheiro a rodos(gasto na minha reducação) por uma familia igual à tua (águas passadas,q decididamente ñ qutorizo marcas(a vida é uma benção)

(li sim..rsrsr..mas tenta..tenho saudades)

olha...tu és fabolástica...ñ é q dou comigo "siderada" na contemplação de Fridda Khaloo..a minah preferida(já vista aquelas cores???!!!)umhhhhh

Um abraço:pandorabox