18 março, 2008

... s/ título ...


De esperas construímos o amor intenso e súbito
que encheu as tuas mãos de sol e a tua boca de beijos.
Em estranhos desencontros nos amámos.
Havia o rio mas sempre ficávamos na margem.
Eu tocava o teu peito e os teus olhos e, nas minhas mãos,
a tarde projectava as suas grandes sombras
enquanto as gaivotas disputavam sobre a água
talvez um peixe inquieto, algo que nunca pudemos ver.
As nossas bocas procuravam-se sempre, ávidas e macias
e por muito tempo permaneciam assim, unidas,
machucando-se, torturando as nossas línguas quase enlouquecidas.
Depois olhávamo-nos nos olhos
no mais profundo silêncio. E, sem palavras,
partíamos com as mãos docemente amarradas e os corações
estoirando uma alegria breve
quando a noite descia apaixonada
como o longo beijo da nossa despedida.

Joaquim Pessoa, Os olhos de Isa, Ed Especial, (1982)

imagem: P. Picasso: The Small Bouquet


4 comentários:

Anónimo disse...

Uma bela descrição da ntensidade do amor, do viver dele e para ele...
Gostei de te ler...
Vou voltar...

Anónimo disse...

MORRER DE AMOR!

Morrer de amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
à pele
do sorriso

Sufocar
de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso

(Mª Teresa Horta)

"lá" tem sido divertido,,,,anda!

Um abraço:pandorabox

Anónimo disse...

Gostei!
Tenho de ler Pessoa, o outro, o Joaquim.

Com uma flor para a Duçolzinha,

Diamante (sem brilho)dito:Brel

osátiro disse...

Amor muito forte sem dúvida.