29 julho, 2008

perguntas quase vegetais (agora com música em especial para a um ar de)






Icart, L.
hydrangeas
(1929)


1) porque é que a glicínea nunca deu flores, ao ponto de nem lhe poder adivinhar a cor da sua natureza?
2) porque é que a buganvília, orientada num caramanchão sui géneris, que preenchia voluptuosamente um canto inglório da parede da garagem, linda de morrer e que me alegrava a altura do ano em que desabrochava desavergonhadamente, secou de um momento para o outro?
3) porque é que os gatos de toda a vizinhança teimam em fazer do meu quintal a sua casa de campo, deixando o seu odor demarcado pelos cantos das plantas que ainda lá estão?
4) porque é que as poucas plantas de cheiros [as únicas que fiz questão de plantar (semear?)juntamente com a glicínea] teimam em se afirmar, numa luta desigual com os gatos que lhes deve cheirar bem fazer lá os "ninhos"?
5) porque é que o pinheiro do natal de mil novecentos e troca o passo e que, passadas as festas natalinas, se transplantou do vaso que o iria tolher para o bendito espaço de que vos falo, cresceu desmesuradamente e, agora, jaz em bocadinhos de tronco naquele espaço onde, noutros tempos, colocava uma grande mesa para celebrar com amigos as noites quentes de verão?
6) porque é que as hidrângeas este ano estão entre o envergonhado e o mirrado?
7) porque é que as cadeiras empilhadas e com cobertura plástica supostamente adequada, próprias para usar à volta da dita mesa, estão com os pés cheios de pó?
8) porque é que o cadeirão de verga (da Madeira) está repleto de sacos com dossiers muito hesitantes (nem servem para nada e, pelos vistos, nem deixam de servir)?
9) porque é que os pratos dos gatos estão desbotados de tal modo que o vermelho está cor-de-borras-de-vinho elas próprias desbotadas?
10) porque é que eu estou aqui com estas perguntas quando há males a sério por esta rua fora, por esta cidade fora, por este país fora, por este mundo fora?

A dimensão individual da vida também dá ou tira colorido à abordagem colectiva... ou não?


CLIFF RICHARD power to all our friends (1973)

7 comentários:

Unknown disse...

Gostava de conseuir responder-te com alguma afirmação menos "vegetal"...
... mas quem virou "vegetal", novamente, fui eu.
... estarei como a tua buganvília?
... talvez sofresse de dores horríveis como eu e desistiu.
... quem me dera ser o teu pinheiro!...

WOLKENGEDANKEN disse...

:))
Conheco este aspecto da vida do jardinagem ! Nao tenho jardim, mas dois terrazos com um clima desertico-quente no verao e arctico no inverno.Imaginas ??

Mas vamos la ver:
Falaste amavelmente com as tuas plantas ??
Tocaste musica para elas ? Parece que Mozart ou outros da epoca sao especialmente adequados
Evitaste que as criaturas sensivis(as plantas, claro) viessem cenas brutais como gatos a comer ratoes ou passaros ?
Avisaste aos teus amigos sentados naquelas cadeiras que nao utilisassem palavras ordinarias para nao ferir a sensibilidade das plantas ??
Controlaste o PH da urina dos gatos ?

Se so uma resposta for "nao" entao que esperas ????

cumprimentos semi-verdes

mdsol disse...

um ar de:
que coisa... upa upa, arriba arriba...
Não estás melhor? Que se passa? Mas por favor... se tu visses os restos do pinheiro...nem como figura de estilo uasavas a expressão. Sabes? um dos "meus netos adoptados" mal chega diz: _ pau, pau (e tenho de o pôr em cima do bocado mais alto para ele fazer de conta que é muiiiiito grande e esticar os bracinhos assim como se fosse um cam+eão ou um super-homem em miniatura! Portanto... minha linda, o meu pinheirinho ainda dá alegria, pelo menos às crianças.
Beijos de não te quero ver assim e de melhoras
:)

wolkengedankan

As tuas perguntas são muito pertinentes e eu... penitencio-me porque a maioria das respostas não abona em meu favor...
mas, como compreenderás, o texto também tem uma leitura metafórica, para a qual é necessário colocar uma pequena lupa em alguns aspectos da realidade. Mas é um texto absolutamente sincero!
:)

Duarte disse...

À simples vista, doutorado pelos quase vinte anos de jardineiro do meu jardim, posso afirmar que tudo isso tem uma dose elevada de desatenção, desinteresse, noutra língua, abandono.
Se realmente estás interessada em salvar tudo isso põe mãos à obra, o que não vai ajudar muito as cervicais, ou contrata um bom jardineiro, vai fazer-te falta, senão isso não há quem o salve.
No caso de que estejas interessada em levar as coisas a bom fim, com as tuas próprias mãos, e necessitas uma ajudinha cá do rapaz, conta comigo.
Verás tudo isso com novo brilho.

Ânimo que, como bem dizes, existem coisas muito mais graves.

Apoio total à natureza...
:))

Manuel Veiga disse...

gosto da tua jardinagem "anárquica"!...

"abordagem colectiva"? pffff.

o que por aí vai... rss

mariam [Maria Martins] disse...

oh! mdsol, alegre-se, tive visitas este fim-de-semana e fiquei cheia de vergonha porque o meu micro jardim está uma vergonha! a relva parece capim... e eu e as minhas manias de plantar tudo quanto é plantas esquisitas em espaços diminutos... e depois vê-las crescer mirraditas! só Eu! mas rego-as, juro!
(vou-lhe contar um segredo... já vieram plantinhas escondidas na minha mala e eu atormentada que ma mandassem abrir no aeroporto... rsrs)

um sorriso :)

WOLKENGEDANKEN disse...

Entao leitura metaforica ! Hmmmm....Voltaire;"il faut cultiver notre jardin" Conselhos psicologicos: deixar desaparecer pessoas que so nos fazem infelizes e cultivar oinosso jardim (interior) para atraer pessoas diferentes.... Mas, Sol, estou convencida que o teu jardim interior está em muito melhor estado que o jardim aqui descrito. Nao é ? :=))