09 maio, 2009

conversas com a Isaura (10)




Redden, S.
green farmland
(2007)

Querida Isaura:

Ao tempo que não te digo nada. E nem sequer tenho feito nada de especial. Bem, já sabes como sou. Não me esqueço de ti mas, às vezes, demoro a dar notícias.
Sabes que nunca fui o que genericamente se chama uma pessoa esquisita. Com razoável capacidade de adaptação às circunstâncias, ao novo e mesmo ao imprevisto, sempre me embrulhei pouco com pormenores de funcionamento desde que o fundamental funcionasse. Sou mesmo assim e tu podes comprová-lo pelas inúmeras peripécias de que fomos falando ao longo do tempo. Para o bem e para o mal. Sabes que não tenho manias, como também não gosto de rotinas e sou capaz de me adaptar bem às coisas. Vem isto a (des)propósito do seguinte: fui jardinar. Não sou de andar lá fora sempre a catar a erva e a podar a planta, mas, volta e meia, gosto de mexer na terra, tirar as folhas velhas, reorientar os ramos mais tresmalhados das plantas, arrancar o que se me afigura daninho. Hoje assim comecei. Mas a fungadeira alérgica foi de tal maneira que tive mesmo de parar. Chorava, fungava, espirrava, assoava-me, limpava-me, desisti. Foi a primeira vez me aconteceu semelhante coisa e nunca na vida me imaginei numa cena destas. Estás a ver-me com alergias à terra e às plantas? Porém, depois de entrar em casa e enquanto lavava as mãos, lembrei-me de que ainda não fez dois anos, a propósito daquela tosse estúpida, me descobriram uma alergia, não identificada rigorosamente apesar de imensos testes posteriores, e que, para rematar o assunto, me disseram ser uma espécie de asma (?). Recuei mais um ano e lembrei-me da chatice que foi ter descoberto que enjoava no Alfa. Lembras-te concerteza que houve uns tempos em que, por um motivo ou outro, tinha regularmente afazeres no centro de Lisboa e que o comboio era uma solução muito prática para me deslocar. Desisti quando, ida de véspera para uma reunião importante, [assim não precisaria de me levantar com as galinhas, acordava já na capital e iria mais fresquinha para a reunião], fiquei de tal modo que, no dia seguinte, à hora da reunião, ainda eu parecia chegada de um desterro qualquer. Tive de admitir que enjoava no comboio coisa esquisita e de que toda a gente se ri na minha cara quando digo que não vou de comboio porque enjoo.
Querida Isaura, se tiveste pachorra para ler até aqui, perceberás que não minto quando te digo que, para mim, a crise é meia dúzia de peanuts e saber que vou trabalhar até perto dos 65 anos é coisa de pouca monta, que a questão ambiental para mim são favas contadas e fome no mundo assunto de trato fácil ... A estas horas estás a pensar que mal me reconheces e eu percebo que assim penses. Eu também nunca me imaginei com alergias & outras desagradáveis companhias.

:))

16 comentários:

CS disse...

Cara mdsol,

Agradecido como estou ao Francisco Calamote por ter reproduzido a nota que coloquei sobre eco consumo e comércio justo (http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/05/ciclo-comercio-justo-e-eco-consumo.html) pedia-lhe o favor de fazer o mesmo neste seu espaço. Pode fazer como ele fez e copiar o texto original com link para o blogue.
Carlos Santos

jrd disse...

Trabalhar até perto dos 65 anos.
Perto?!...
Então não vai ser até à véspera, que, normalmente, é destinada às despedidas e a uma prenda dos colegas, quando os há?

Luna disse...

Trabalhar ate aos 65, nem me fales,antes quero ter alergias
beijo

PreDatado disse...

Bom, como cá em casa há 2 pessoas com alergias desse tipo, além da minha mãe e como eu já enjoeei até a andara de eléctrico compreendo a meia dúzia de peanuts. Bom fim de semana (com Zyrtec?).

Duarte disse...

Estou a ver à Isaura toda preocupada...

Querida amiga, quando se alcança a casa dos quarenta começam a acontecer coisas assim. Nessa altura, era o principio da Primavera, para meu entender constipei-me e o médico assim o confirmou. Tínhamos que passar a Páscoa em Dénia e lá fui com as injecções detrás, Passou um mês, segui com as injecções mas cada dia estava pior. Quando regressei voltei ao médico, mandou-me ao especialista e disse-me que era uma alergia, deu-me um tratamento e aquelas incomodidade de mais de um mês desapareceram. Nunca tinha passado por uma situação parecida, Desde então não me deixa, com mais ou menos intensidade.
Outras coisas vão aparecendo... são os anos!

Não penses na terra, nem nas ervas, pensa no pólen.

Recebe um grande abraço e o desejo duma reposição total.

Francisco Clamote disse...

Alergias, MDSOL?
Em sentido figurado, espero!

salvoconduto disse...

E eu que quando o meu amigo Res me disse que enjoava no Alfa e que eu tinha que levar o carro o mandei bugiar, que para motorista eu não servia tive, que me convencer ao vê-lo naquela aflição em toda a viagem para Lisboa...

Oh Isaura, ela não deve estar a mentir!

António Torres disse...

Alergias?
Fungadelas?
Atenção, que pode também haver gripe das couves...
:))

Carminda Pinho disse...

Alergia, hipótese de asma, e outros...ai! amiga acho que isto é devido ao PDI. Lol
Reforma aos 65, não terei essa sorte, pois se estou desempregada (involutáriamente) desde os 50, já não acredito vir a conseguir o tal emprego, que me tire desta angústia, que é o achar que não sirvo para mais nada senão para doméstica, que foi uma coisa que sempre detestei. :(

É asim a vida, digo eu às vezes, quando estou menos desesperada.

Beijos

Ana Paula Sena disse...

Bom, primeiro que tudo: gostei muito desta escrita tão dialogante! Lê-se com gosto.

Eu, enjoar, não enjoo, mas alergias...! um horror. E não as tinha, vieram entretanto... não no sentido figurado, tornaram-se mesmo realidade. Imaginar trabalhar até aos 65, com alergias e Zyrtec...hummm que panorama :)) Nada que a gente não resolva :))

A Primavera também faz muitas maldades!

Beijinhos (atchim!) :))

anamar disse...

mdsol... boa menina, foi bom ler carta a Isaura... dá para te descobrir mais e continuar a encontrar afinidads... até nas alergias... assim como vieram no fim dos 30, desapareceram aos 40ssssssssss! Mãe dum António , que foi asmático dos 4 aos 12 anos! "guinesse" de entada no Hospital de Cascais, noites brancas, um horror! Por isso te avalio! Mas haja esperança para ti também...
Quanto ao Alfa de que tanto gosto, isso deve ser alergia aos materiais que te faz enjoar...
Não sabia que tinhas terra para mexer... que delícia...
Saúde e cuida te!
Beijinho :.))

jose albergaria disse...

Hoje o dia está assim para o chuvoso e, como a minha amiga é do Porto, merece uma da frases mais bonitas que eu conheço sobre a Invicta: "Cidade nebrinosa, presa do entardecer."
Mas, querida amiga, esta sua escrita é de uma qualidade! e, como diz a poeta Inês Lourenço: "enxuta"!
Alergias, reformas, terra, ervas daninhas...toda a matéria é boa, quando daí sai BOA literatura.
Abraço,
JA

Manuel Veiga disse...

tens toda a razão.

qual crise qual nada?

as nossas alergias (isto é, as tuas alergias!)sim, são importantes!

texto delicioso...

Myriade disse...

Com ou sem alergias com trabalhar até os 65 pode se contar comcerteza senao até 67. Mas enfim o lado positivo é que é verdade que a esperanza de vida aumentou muito, sobre tudo para as mulheres. Ou seja com a perspectiva de chegar até os noventa e tanto nao faz muito sentido aposentar-se aos 55. Sentido nao faz, mas seria um prazer, claro :)) com a condicao de ter o suficiente dinheiro para as voltas ao mundo e outras actividades de pensionistas do tempo da pre-crise :))

bettips disse...

"Isaura: eu enjôo no Alfa. Uma vergonha. Talvez nem vá a tempo do TGV e o diabo é que nem me interessa, às tantas o problema, de custo incalculável, é o mesmo.
Não tenho alergias porque não tenho terra...
E não trabalho, fui obrigada a deixar de; para além de mim-mim, o resto são peanuts, todavia com casca. E intrincáveis, se isso existe.
Querida Isaura, vê se me compreendes e me reconheces... quando comprávamos violetas em Outubro."
Bj

Anónimo disse...

gosto do desenho. como sempre. como de quase todos. n vale a pena comentar "gosto" "gosto" "gosto"

isto anda a ficar com uma media jeitosa de clientes, n tarda tás nas centenas :DDDDDDD pffff invejosa