18 novembro, 2008

exercitação do entendimento





Koneva , A.
dialog
(1999)






"E por tolerância, não entendemos aqui a piedosa inclinação para suportar o outro, sob genéricas alegações de humanidade ou de virtude, mas a capacidade para compreender para além das aparências imediatas, para compreender as motivações reais do comportamento alheio, e sobretudo, do nosso próprio comportamento.
Por tolerância, não queremos significar a largueza de coração, mas acima de tudo, a largueza - possível - da compreensão."

in "Tire a mãe da boca" de João de Sousa Monteiro, p. 55



Lisa Ekdahl
[confesso que pesquei esta sugestão musical aqui]

15 comentários:

~pi disse...

o título do livro, que não conheço, é ( só por si
um verdadeiro convite ao
questionamento do pré-fixo,
à fluidez e
à e x p a n s ã o,

(lembrei-me da mãe a aparecer no céu, no filme de w allen :)

[ pra mim não é preciso compreender tudo,
é preciso sobretudo confiar -
- talvez fale da largueza de coração, ausente de compreensão imediata. talvez isso seja muito interessante como prática. dar -nos espaço-tempo. ( corremos tanto a esquecer o mais importante!
o tempo revela mais tarde muitas coisas, muiiiitas! revela-nos a nós de nós, :)

bem e tudo o que não vem por dentro, tudo o que não se inscreve, não creio que permaneça, como argumento meramente racionalizado seja do que for.



~

Anónimo disse...

Mdsol

Não se trabalha? Anda tão prolixa nos últimos dias…

E eu que andei à procura de alguém amigo para ir ao CCB ver a Lisa Ekdahl. Lembrei-me de si, mas pensei que não abandonava o seu Norte querido para vir à capital assistir a um concerto de uma qualquer Lisa.

Bjs

Henrik disse...

A história do conceito de tolerância é bastante curioso. Antes de Voltaire ter escrito o famoso 'Tratado sobre a Tolerância' a palavra 'tolerância' tinha exactamente o sentido do seu radical latino que era 'aguentar' ou 'suportar' ou 'aturar' - conforme os casos. Isto é tolerar era um acto de 'aguentar' até ao máximo algo. O escrito de Voltaire (incendiário como sempre) tinha precisamente outro sentido tolerar passou precisamente a significar 'tentar compreender as motivações alheias' tomou essa direcção (e acepção), muito controversa à época - e ainda hoje.
E concordo com a frase final de J.S. Monteiro é necessário sobretudo uma largueza de compreensão.
Muito bem relembrado!

luis lourenço disse...

Uma reflexão muito oportuna...música a preceito...
Boa semana, Maria do Sol...
abraços

Anónimo disse...

Mais tarde volto aqui para comentar este desafiador post.
Agora um recadinho:

Caro José Carlos: deixei umas palavrinhas para si, no domingo, em 'Cores do meu outono. Como não sei se lá retornou...

***

Mr. Lynch disse...

Mdsol;
Não conheço o livro, mas o excerto que aqui partilhaste aguçou-me a curiosidade. A descobrir...
Excelente imagem. Gosto muito do toque dadaísta nas obras de Aleksandra Koneva.
*s

Violeta disse...

uma boa forma de ver a tolerâcia.
Bjs

Anónimo disse...

Confesso que o quadro não me diz nada...
Mas apreciei muito o curto texto de Sousa Monteiro. Fiquei com vontade de ler mais.
Santa ignorância : não conhecia Lisa Ekdahl, nem percebia em que língua cantava. Mas informei-me (são as alturas em que penso Santo Computador !).Depois de saber que é sueca fui procurar outras coisa dela. E talvez publique um trecho dela, mas em inglês.
Muito obrigado !
:))) José-Carlos

Manuel Veiga disse...

largueza de compreensão. excelente...

Sensualidades disse...

antes demais obrigada pelo comentario no meu

tolerancia, sou exigente demais comigo mesma para me tolerar, estranhamente aceito em outras pessoas o que nao aceito em mim mesma

Jokas

Paula

Duarte disse...

Chegaremos alguma vez a esse grau de entendimento ou tolerância? Maus tempos para tais logros de equilíbrio....

Beijos

Aqueduto Livre disse...

Caríssima,
A primazia (como em quase TUDO) cabe aos gregos. Tolerância virá de tólos, que significava a capacidade de reagir, resistir à dor, tanto fisica como aquela, que nos provocam (ou provocamos) na alma, ou anima, para ficarmos nas latinices.
A tolerância é "mesmo" a capacidade, no limite, de suportar a dor. E nada tem a ver com o "aceitarmos" por frete, ou favor o "outro".
Não: a tolerância, no sentido aristotélico, deriva da urgência de vivermos, de partilharmos com ou "outro", sob pena de não sermos nós!
Nós somos ser sociais: existimos - por que o outro existe!Não há como escapar à "tolerância".

Abraço,
Zé Albergaria

Anónimo disse...

Um bocado tarde a comentar aqui, não queria deixar de dizer que sinto-me em sintonia com TUDO o que diz a ~pi. Bela maneira de o dizer.

E disse sem deixar de fora a 'largueza de coração' que é para mim, o princípio para se compreender (o autor fez aí uma distinção..). A importância da emoção para que 'se increva e permaneça' como diz a ~pi. E a questão do tempo, sim.

Interessante o que diz Henrik mas, a impressão que tenho hoje, no uso comum da palavra tolerância é algo negativa, como uma 'condescendência' (haverá algo mais desrespeitoso que ser condescendente? ex: 'Eu te escuto, vá lá, que é politicamente correcto assim agir mas nada tens a acrescentar ao que eu já decidi e é melhor'.. ) Um tratamento de minoridade ao outro.

Ainda prefiro 'aceitação' como acto de acolhimento, quando se ouve outra pessoa, o que não significa ter de concordar com ela.

O quadro mostra duas pessoas, que parecendo diferentes, apresentam um certo espelhamento...é que para conhecermo-nos, nisto o outro também importa. E os dois barquinhos a navegar naquelas águas?... Para não deambular em muitas águas, ilustro;

do mesmo livro (achei na net, não sou nenhuma entendida) olhem o que diz J.S.M.

""... o sentido ultimo da arte, da filosofia da ciência, da psicanálise e de toda a cultura: ajudar a transformar os "pensamentos impensados " dos outros e de nós próprios, contribuir para que nos outros, e em nós, nasça uma vez, e outra, e outra ainda, o desejo de "criar o mundo"...

Como falou-se do diálogo (ou a falta dele) nos conflitos actuais (ME e professores) pode parecer supérfluo que eu fale de 'trabalhar com a alma' aqui.
Mas eu sinto que cuidado e reflexão (mente e coração - e objectividade já agora) não são contrários a esta forma de estar na vida, no fundo, sintetizada e bem, no que disse a ~pi ao princípio.

***

Anónimo disse...

Obrigada Zé Albergaria por incrementar essa conversa. Seu comentário apareceu já depois de eu ter escrito o meu. É mesmo isso.. e, recuperando o sentido, que belas palavras ..
..."a tolerância, no sentido aristotélico, deriva da urgência de vivermos, de partilharmos com ou "outro", sob pena de não sermos nós..existimos - por que o outro existe!"...

***

~pi disse...

há dias em que choro muito

e também

há dias em que

me deito a dormir

grávida do mundo :)




~