Koneva , A.
dialog
(1999)
"E por tolerância, não entendemos aqui a piedosa inclinação para suportar o outro, sob genéricas alegações de humanidade ou de virtude, mas a capacidade para compreender para além das aparências imediatas, para compreender as motivações reais do comportamento alheio, e sobretudo, do nosso próprio comportamento.
Por tolerância, não queremos significar a largueza de coração, mas acima de tudo, a largueza - possível - da compreensão."
in "Tire a mãe da boca" de João de Sousa Monteiro, p. 55
Lisa Ekdahl
[confesso que pesquei esta sugestão musical aqui]
15 comentários:
o título do livro, que não conheço, é ( só por si
um verdadeiro convite ao
questionamento do pré-fixo,
à fluidez e
à e x p a n s ã o,
(lembrei-me da mãe a aparecer no céu, no filme de w allen :)
[ pra mim não é preciso compreender tudo,
é preciso sobretudo confiar -
- talvez fale da largueza de coração, ausente de compreensão imediata. talvez isso seja muito interessante como prática. dar -nos espaço-tempo. ( corremos tanto a esquecer o mais importante!
o tempo revela mais tarde muitas coisas, muiiiitas! revela-nos a nós de nós, :)
bem e tudo o que não vem por dentro, tudo o que não se inscreve, não creio que permaneça, como argumento meramente racionalizado seja do que for.
~
Mdsol
Não se trabalha? Anda tão prolixa nos últimos dias…
E eu que andei à procura de alguém amigo para ir ao CCB ver a Lisa Ekdahl. Lembrei-me de si, mas pensei que não abandonava o seu Norte querido para vir à capital assistir a um concerto de uma qualquer Lisa.
Bjs
A história do conceito de tolerância é bastante curioso. Antes de Voltaire ter escrito o famoso 'Tratado sobre a Tolerância' a palavra 'tolerância' tinha exactamente o sentido do seu radical latino que era 'aguentar' ou 'suportar' ou 'aturar' - conforme os casos. Isto é tolerar era um acto de 'aguentar' até ao máximo algo. O escrito de Voltaire (incendiário como sempre) tinha precisamente outro sentido tolerar passou precisamente a significar 'tentar compreender as motivações alheias' tomou essa direcção (e acepção), muito controversa à época - e ainda hoje.
E concordo com a frase final de J.S. Monteiro é necessário sobretudo uma largueza de compreensão.
Muito bem relembrado!
Uma reflexão muito oportuna...música a preceito...
Boa semana, Maria do Sol...
abraços
Mais tarde volto aqui para comentar este desafiador post.
Agora um recadinho:
Caro José Carlos: deixei umas palavrinhas para si, no domingo, em 'Cores do meu outono. Como não sei se lá retornou...
***
Mdsol;
Não conheço o livro, mas o excerto que aqui partilhaste aguçou-me a curiosidade. A descobrir...
Excelente imagem. Gosto muito do toque dadaísta nas obras de Aleksandra Koneva.
*s
uma boa forma de ver a tolerâcia.
Bjs
Confesso que o quadro não me diz nada...
Mas apreciei muito o curto texto de Sousa Monteiro. Fiquei com vontade de ler mais.
Santa ignorância : não conhecia Lisa Ekdahl, nem percebia em que língua cantava. Mas informei-me (são as alturas em que penso Santo Computador !).Depois de saber que é sueca fui procurar outras coisa dela. E talvez publique um trecho dela, mas em inglês.
Muito obrigado !
:))) José-Carlos
largueza de compreensão. excelente...
antes demais obrigada pelo comentario no meu
tolerancia, sou exigente demais comigo mesma para me tolerar, estranhamente aceito em outras pessoas o que nao aceito em mim mesma
Jokas
Paula
Chegaremos alguma vez a esse grau de entendimento ou tolerância? Maus tempos para tais logros de equilíbrio....
Beijos
Caríssima,
A primazia (como em quase TUDO) cabe aos gregos. Tolerância virá de tólos, que significava a capacidade de reagir, resistir à dor, tanto fisica como aquela, que nos provocam (ou provocamos) na alma, ou anima, para ficarmos nas latinices.
A tolerância é "mesmo" a capacidade, no limite, de suportar a dor. E nada tem a ver com o "aceitarmos" por frete, ou favor o "outro".
Não: a tolerância, no sentido aristotélico, deriva da urgência de vivermos, de partilharmos com ou "outro", sob pena de não sermos nós!
Nós somos ser sociais: existimos - por que o outro existe!Não há como escapar à "tolerância".
Abraço,
Zé Albergaria
Um bocado tarde a comentar aqui, não queria deixar de dizer que sinto-me em sintonia com TUDO o que diz a ~pi. Bela maneira de o dizer.
E disse sem deixar de fora a 'largueza de coração' que é para mim, o princípio para se compreender (o autor fez aí uma distinção..). A importância da emoção para que 'se increva e permaneça' como diz a ~pi. E a questão do tempo, sim.
Interessante o que diz Henrik mas, a impressão que tenho hoje, no uso comum da palavra tolerância é algo negativa, como uma 'condescendência' (haverá algo mais desrespeitoso que ser condescendente? ex: 'Eu te escuto, vá lá, que é politicamente correcto assim agir mas nada tens a acrescentar ao que eu já decidi e é melhor'.. ) Um tratamento de minoridade ao outro.
Ainda prefiro 'aceitação' como acto de acolhimento, quando se ouve outra pessoa, o que não significa ter de concordar com ela.
O quadro mostra duas pessoas, que parecendo diferentes, apresentam um certo espelhamento...é que para conhecermo-nos, nisto o outro também importa. E os dois barquinhos a navegar naquelas águas?... Para não deambular em muitas águas, ilustro;
do mesmo livro (achei na net, não sou nenhuma entendida) olhem o que diz J.S.M.
""... o sentido ultimo da arte, da filosofia da ciência, da psicanálise e de toda a cultura: ajudar a transformar os "pensamentos impensados " dos outros e de nós próprios, contribuir para que nos outros, e em nós, nasça uma vez, e outra, e outra ainda, o desejo de "criar o mundo"...
Como falou-se do diálogo (ou a falta dele) nos conflitos actuais (ME e professores) pode parecer supérfluo que eu fale de 'trabalhar com a alma' aqui.
Mas eu sinto que cuidado e reflexão (mente e coração - e objectividade já agora) não são contrários a esta forma de estar na vida, no fundo, sintetizada e bem, no que disse a ~pi ao princípio.
***
Obrigada Zé Albergaria por incrementar essa conversa. Seu comentário apareceu já depois de eu ter escrito o meu. É mesmo isso.. e, recuperando o sentido, que belas palavras ..
..."a tolerância, no sentido aristotélico, deriva da urgência de vivermos, de partilharmos com ou "outro", sob pena de não sermos nós..existimos - por que o outro existe!"...
***
há dias em que choro muito
e também
há dias em que
me deito a dormir
grávida do mundo :)
~
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