13 julho, 2010

cenas da vida real

 


Stuber-Pearson, Marguerite
two friends 




A cena passa-se ao fim da tarde de ontem, dia 12 de Julho de 2010, durante um exercício politicamente  incorrecto, em casa da minha queridíssima amiga M. - a fumar um cigarro na varanda. 
A conversa é trivial, sobre os afazeres de cada uma [a M. é uma excelente professora do ensino secundário, das que se desiludiu com as mudanças da ministra Mª de Lurdes Rodrigues] e algumas minudências caseiras, sempre com o sentido mais geral que conseguimos dar ao que dizemos.
A M. fala-me enfadada das papeladas que tem de preencher neste final de ano. Pergunto-lhe com calma: mas diz-me lá, no fim desses balanços todos, não sentes que a reflexão necessária para estrutuares o discurso escrito, te deixa alguma coisa além do cumprimento chato de uma tarefa burocrática? Ãh, ãh! E uma cara característica da expressiva M. diz-me que só a sua delicadeza natural a impede de me dar uma resposta torta. Percebido isso logo ao segundo ãh, reformulo a questão para saber se, no primeiro ano em que teve de preencher a papelada, não foi obrigada a arrumar as coisas, a reflectir sobre o que tinha feito de uma forma mais sistemática... Ãh, no primeiro ano talvez, mas nada de especial.  Ok. percebo, tu já és muito experiente, já tens muito conhecimento tácito acerca do teu trabalho. Mas, e os professores mais novos, não achas que lhes faz bem fazerem a avaliação do que se passou (ou não passou) na turma, nos projectos em que participaram? Ui, faz muiiiiito bem!, muito bem mesmo. Aaaah! acelera-lhes a experiência profissional, é isso, M? Mais uma expressão típica da M. e ambas percebemos que nos tinhamos entendido em relação a qualquer coisa que não era preciso nomear. A M. remata o assunto com o pragmatismo de quem precisa de muito tempo livre para sonhar: já acabei tudo, já mandei tudo.
...
_M. diz-me onde havemos de ir jantar. O J. faz hoje anos, não marcamos nada e não sei onde havemos de ir todos.
_O J. faz anos hoje? Então não é amanhã? 
_ Não, é hoje, dia 12.
_Como?  Hoje não são 11? 
_Não, 11 foi ontem, DOMINGO.
_Ah!, oh!, ah!, olha aqueles documentos foram todos com data de 11!
_ Deixa lá, não deve haver problema... Bem, olha o Sócrates ... estás a ver? É por isso que eu ... ponho sempre muitas reticências ...  Aqui fui eu que fiz uma cara das minhas, porque qualquer palavra seria a mais.
Seguiu-se um sorriso de menina rosada da M. sempre menina, enleado em algumas posições partilhadas com o BE e no seu coração rigoroso.

11 comentários:

Blondewithaphd disse...

Sim, concordo: absolutamente politicamente incorrectíssimo, desde o cigarro na varanda logo no início ao BE mesmo no fim;)

António P. disse...

A vida real é tramada !
E a resistência à mudança também :))

Rogério G.V. Pereira disse...

A única incorrecção que detectei neste texto foi uma troca de datas...

Mas onde é que a M. tem a cabeça?
(o coração sabemos que rigorosamente lhe fica à esquerda, o lugar certo para colocar qq coração rigoroso...)

PS: A MdSol, não viu o monstro emergir da Lagoa
http://conversavinagrada.blogspot.com/2010/07/impedido-de-aparecer-la-fora-o-monstro.html)

Cristina Torrão disse...

O quadro é lindíssimo!
Não desfazendo do texto, que li com interesse até ao fim. Mas foi o quadro que me levou a abrir a janela dos comentários :)

O Puma disse...

Dramática mente real

a sua anedota

de corpo inteiro

Sensualidades disse...

e dificil mudar, mesmo que seja para possivelmente melhor, a resistencia a mudar e que pode impedir a melhora

Adorei a narrativa, parabens escreves muito bem

Beijos
Paula

Daniel Santos disse...

mandar documentos ao domingo...interessante.

Mónica disse...

ai Mdsol custa-me tanto ler testemunhos de professores a queixarem-se de...de quê? de fazerem relatórios? preencherem papelada? irem a reuniões chatas? fazerem actas? actualizarem procedimentos? mudar programas?

ai Mdsol que dizer dos trolhas cada vez que lhes é pedido 5minutos de atenção para as questões da segurança que é para bem deles, aceitarem q sempre como fizeram está mal q devem fazer assado, q as tecnologias são outras, hmm??

a estes perdoo pq tenho pena, àqueles não mas tb tenho pena

no trabalho todos temos partes chatas, borucráticas, partes discordantes com a lei (fiquei há dias a saber que as leis são feitas de encomenda a gabinetes, uns fazem, por exemplo, do artigo 10 ao artigo 20 e outros do artigo 21 ao artigo 40? e pergunto-me se alguém se deu ao trabalho de os fazer coerentes com a realidade?), implementação de sistema da qualidade, ninguém é deixado sozinho na sua profissão sem prestar contas a ninguém.

isso não significa melhores profissionais, mas significa q cumprem os requisitos minimos e é isso que se pede aos professores, pessoas que andaram na universidade, que sabem usar o cerebro, sabem usar uma caneta, sabem usar o computador, sabem ler um questionário... ou não? Trolhas? (com todo o devido respeito)

acho q os deputados da assembleia deviam tb ter umas fichas e uns procedimentos para o povo ler e saber se cumprem os requisitos minimos

Manuel Veiga disse...

essa coisa de meter o coração (ainda por cima rigoroso) no ensino dá nisso mesmo - fica-se baralhado...

... talvez apenas a inteligência! lol

beijo

Luis Filipe Gomes disse...

Por causa das coisas eu tinha um relógio dito automático que além das horas me dizia o dia do mês e o dia da semana. Com os melhorantes da vida moderna adquiri um telenmóveim e desisti do relógio que era um pesado projéctil de arremêsso. Nunca mais fui o mesmo. Nunca mais soube qual o dia da semana que é coisa que o meu telenmóveim não diz. P'ra milhor muda sempre, o pior é que a gente não sabe quando vai p'ra milhor.

anamar disse...

Uhmmmmmmm
Beijocas e como gosto do teu jeito de conversar....
:))