06 outubro, 2010

digestivo






De Kooning, Willem
high school desk
(1970)





Alguns comentários a este post levam-me a dizer que, também eu, acho a iniciativa da remodelação das Escolas altamente meritória e politicamente acertada. O meu reparo vai para o modo como esta medida tem sido posta em prática, em demasiados casos. Dos testemunhos que tenho ouvido, e são bastantes, sobressaem muitos problemas, por exemplo, de funcionalidade e adequação às funções, que resultam em grande parte da falta de diálogo, arrogância e da falta de preparação específica, nomeadamente dos arquitectos: laboratórios sem água, pavilhões sem tomadas, janelas que não permitem salas arejadas, espaços polivalentes com "arejo" a mais, materiais inapropriados, soluções que duram pouco, cores completamente desadequadas até do ponto de vista das boas condições para a aprendizagem, aquecimento mal programado, indiferença pelas especificidades do uso das instalações, espaço das bibliotecas pior ... Alguém, professora, defensora das políticas de educação, nomeadamente do governo anterior, sintetiza: a escola ficou pior, está aparentemente muito lindinha mas em termos funcionais está muito pior. Ora, os problemas da funcionalidade e da adequação das soluções, são da esfera da competência dos profissionais que, no terreno, acompanham os trabalhos de remodelação. Esta desadequação e falta de qualidade não se situa na esfera política, situa-se na esfera ética e na  esfera do exercício da competência profissional (deontológica, para abreviar). Este é o tipo de "problema" que me incomoda particularmente: a falta de rigor e o formalismo com que, muitas vezes, se tenta tapar o falta de empenhamento naquilo que se faz. É por estas e por outras que não vamos lá... Os governos não têm a culpa toda, nem a culpa de tudo. Há uma dose de culpa "profissional" e individual, no fracasso colectivo que paira por aí.

8 comentários:

António P. disse...

Bom dia mdsol,
Já deixámos as máquinas de guloseimas...ainda bem :))
Quanto ao que alguns narram e lhe contam há que saber se falamos de uma escola em 100 ou de 50 ou 90 em 100.
Hoje , e não só, há a tendência para falar de um caso particular e generalizar ao todo.
Por mim não posso falar. As filhas há muito que deixaram a escola e as netas são muito pequenas :))
Mas ouvindo os pais, os alunos e professores parece-me que o que conta é a excepção e não a regra.
Finalmente uma última nota :
- antes queixavam-se, alguns ( muitos ?) que não havia os meios, agora que há os meios eles não funcionam...e que tal os profs também meterem as mãos na massa ??

Sou, como saberá, contra as políticas de mudar as mentaliddaes mas sou a favor das que mudam as atitudes ( não é a mesma coisa ), agora já começo é a ficar farto de que a culpa ( termo cristão :)) é sempre dos políticos.
Cadê dos outros ?
Saudações republicanas ( ainda são válidas ? :))

mdsol disse...

António P

Todo o seu comentário vai no sentido do que eu tentei dizer no texto. Posso ter sido inábil mas, repare como termino: "Os governos não têm a culpa toda, nem a culpa de tudo. Há uma dose de culpa "profissional" e individual, no fracasso colectivo que paira por aí."
Também acho que os professores se demitem bastante, mas o que me dizem é que a uma atitude de abertura inicial se seguiu um autismo dos arquitectos relativamente ao que os rodeia. E que nem querem saber. E como dizem que dizia oAbel Salazar: um médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe. Concordo que não se devem fazer generalizações. Mas os casos são tantos (ouvi testemunhos de pessoas singulares e de entidades colectivas, do Norte, da zona de Lisboa, do interior, do litoral...) que indiciam uma linha de actuação. Sabe António, muitas vezes são os "artistas" do terreno que sabotam qualquer boa intenção. Olhe o que se passa, em grande parte, nas Novas Oportunidades. Uma iniciativa importantíssima, descomplexada e inovadora, que alguns intérpretes conseguem, em muitos casos, adulterar completamente. Não basta concordar com o que se anuncia. Tentar manter um olhar crítico sobre o modo como as coisas acontecem parece-me construtivo. Ou o António nunca ouviu falar dos que são mais papistas do que o Pápa? E daqueles que estão sempre à espreita para tirarem proveito próprio do que devia ser um bem de todos?


:)))
E viva o sangue cheiinho de hemoglobina, o que quer dizer vermelhinho, vermelhinho (isto como resposta às saudações republicanas, que eu tento não baralhar os sectores e patamares de análise. Ou acha que, por via do fê cê pê eu ia defender o sangue azul?) eh eh eh

Leonor disse...

Os profs. não podem inventar computadores, projectores e outro material onde não há ou aumentar as salas, por exemplo, de forma a que todos os alunos lá caibam decentemente. Eu também fico cansada de atirarem sempre as culpas aos profs.

mdsol disse...

Leonor

Bem vinda. Claro que quem trabalha nas escolas tem uma ideia mais correcta do que efectivamente as obras trouxeram. Infelizmente os testemunhos qu etenho ouvido não são animadores.
Beijinho

:))

Leonor disse...

Estou muito desiludida por constatar que estamos pior do que antes das obras, Maria do Sol. Não conseguimos sequer descansar nos intervalos, porque a sala de professores é exígua. Houve alguém que acompanhou a obra mas que se deve ter esquecido que havia para lá uma gente que dava umas aulas e que também merece ser tratada com dignidade :(

mdsol disse...

Parece que as salas de professores minúsculas são uma constante. Enfim, mantenho a minha ideia: muita incompetência à solta.

:)

Mónica disse...

só queria corrigir duas coisas, peço desculpa pelo atrevimento, 1-cabe ao arquitecto definir o programa (vulgo arquitectura e tudo e tudo) e a ele cabe não ser arrogante, a ele cabe informar-se sobre as formas e as funcionalidades, mas isso para o ego de um arquitecto é pedir muito, o que ele acha q deve é ser bonito e mais nada e de preferência deixar marca, nem q seja a marca da estupidez.

2-não é quem acompanha os trabalhos de remodelação que cabe mudar os erros do projecto (nem o CCP o permite assim com 2 tretas)

é que o rigor da linguagem tb é importante nestas coisas.

concordo com o post letra por letra. e gostava que aquilo que se chama aqui à atenção (a total cegueira do projectista e dps o deixa andar do promotor do projecto e por aí fora dps todos encolhem os ombros) passasse para todas as áreas: os projectistas DEVEM ouvir/aprender com os utilizadores. e se calhar a começar na fac da arquitectura: deixem o olimpo e desçam à terra, a arquitectura não é escultura!!

Mónica disse...

volta escola do plano dos centenários tás perdoada :DDD