José Mário Branco, queixa das almas jovens censuradas
[mal eu sabia que viajar nesta altura me pouparia desgostos presenciais... e enquanto o pau vai e vem folgam as costas... não se trata de fugir... trata-se de ter mais tempo e distância para...lidar com gente que não se enxerga ... não se preocupem...isto são desabafos muito caseirinhos... é que isto das prepotências e da tentativa de manipulação das consciências e da individualidade de cada um não se manifesta só à escala nacional.... é vê-los, muitas vezes críticos do que nacionalmente se faz, a exagerarem maus procedimentos e más práticas nas quintas em que têm reinados efémeros. uns tristes.]
eu já não tenho "pachorra" ... confio plenamente no discernimento de quem aqui espreita... é o "eduqês" no seu melhor... pelo menos que se expliquem...
ou o cheiro do feno quente ainda da última gota de água,
a mão esquece a árvore onde fez o ninho
e vai poisar entre o frio dos joelhos
devagar.
Eugénio de Andrade, antologia breve, 84-85
Alfred Brendel, Beethoven - sonata para piano nº 14 (op.27) [moonlight sonata] 3º andamento
[a escultura, as palavras e a música... sim, a música... porque hoje é dia do senhor...um bom dia do senhor para todos, senhoras e senhores, meninas e meninos, damas e cavalheiros e todos os que aqui vierem espreitar rsrsr...]
Já não é a primeira nem a segunda vez que me acontece. Mas ontem, vá lá eu fazer um esforço de síntese para saber porquê, estava com menos paciência. Motivos pessoais levaram-me a recorrer a um serviço privado (no sistema de saúde). Como era a primeira vez foi necessário preencher uma "ficha". Com a informatização dos serviços a funcionária preenche-o directamente no computador. Até aqui tudo bem, tudo necessário, nada demais. Porque me falta a paciência então? A paciência falta-me para o "espectáculo" que é perguntarem-me em voz alta e exigirem resposta igualmente em voz bem alta, o meu nome, a morada, a profissão, se pertenço a algum sub-sistema de saúde, o número do telemóvel, o serviço que procuro... Ontem, avisada por experiências semelhentes que não me agradaram, antes da funcionária iniciar o interrogatório, numa voz audível mas suave, resolvi oferecer-me para lhe passar os cartões e, deste modo, evitar que todos quantos estavam naquela "entrada" ficassem a saber de mim o que não é necessário e faz parte da minha intimidade em sentido mais lato (digamos assim). Que não, com ar de espanto, que não era preciso o B.I., nem cartão nenhum. Diga, diga,! E eu num tom suave... Maria. E ela repetia mais alto Maria... E eu suavemente (a ver se ela percebia)... e ela cada vez mais alto... e eu a ficar sem paciência... e ela cada vez mais alto... Cada dado que eu lhe dava num tom morno, ela repetia-o mais alto, mais alto... E foi neste jogo de incompreensão mútua que eu debitei parte do que me identifica como cidadã de um modo que ouviu a funcionária, ouviu quem estava à volta e, os que estavam mais longe, ouviram também. Tudo repetido pela diligente funcionária, com muita segurança e tim tim por tim tim ... Pergunta verdadeiramente genuína: é de mim ou deveria haver uma maneira de isto não acontecer?
o sol já "carcomiu" parte da cor da lombada estreita e da capa desta Antologia Breve de Eugénio de Andrade, da Editorial Inova Limitada, edição de 1972.
Pierre Fournier, 1º andamento do concerto nº 1 para violoncelo de Camille Saint-Saëns, com a orquestra de câmara da ORTF conduzida por André Girard.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Álvaro de Campos, aniversário
O meu caríssimo amigo J. faz hoje 50 anos. Parabéns!
Estou apreensiva! Afinal, investir em educação e formação tem efeitos imprevisíveis e, em dados momentos, assaz inúteis! Veja-se o caso da Islândia: basta uns meninos engraçados começarem a jogar o jogo da cadeira usando banquinhas e o jogo do anel usando bolsinhas, e não se evita a bancarrota do país. Levada pela leveza da argumentação, estava tentada a dizer que até será mais útil um povo meio arruaceiro e boçal para, nestas alturas, não haver pruridos de assentar uns tabefes em quem anda a mangar com o pessoal! Querem lá ver que Portugal anda no bom caminho e nós não sabemos de nada???????
Deolinda, movimento prepétuo associativo (aproveito para vos apresentar esta nova proposta de Hino Nacional, que substuirá A Portuguesa)
lança menina , lança todo este perfume desbaratina não dá pra ficar imune ao teu amor que tem cheiro de coisa maluca Vem cá meu bem, me descola um carinho Eu sou néném, só sossego com beijinho Vê se me dá o prazer de ter prazer comigo Me aqueça Me vira de ponta cabeça Me faz de gato e sapato e... Me deixa de quatro no ato Me enche de amor, de amor Lança, lança pefume oh oh oh oh lança, lança perfume Lança perfume....
Aqui me tens, conivente com o sol neste incêndio do corpo até ao fim: as mãos tão ávidas no seu voo, a boca que se esquece no teu peito de envelhecer e sabe ainda recusar.
esta notícia de ontem tocou-me. não sou de indiferenças perante a desgraça alheia. meti mãos à obra e arranjei estes dois saquinhos (ou duas bolsinhas se preferirem) para ajudar. falhou-me uma terceira bolsinha que teria muito gosto em oferecer ao que tem nome próprio de irmão metralha e um apelido que é uma corruptela de nome próprio de menino bem. ainda não sei se me abalançarei a dar uma de Geldorfa e partir para a criação de um movimento de solidariedade: MAFACUMAM*
Vários, we are the world
*MAFACUMAM Movimento (de) Ajuda (aos) Financeiros Aparentemente Com Uns Milhões A Menos
[bem bem ... ai ai... eu não disse que não devia haver empresários... meninas e meninos atentem, eu tentei referir-me a essa coisa que anda entre o interesse e a usura]
"A ciência económica tem sido envolvida pelos teóricos em tantas teias, que os homens simples chegam a pensar que a sua nudez deve ter qualquer coisa de indecente. Em tais circunstâncias, suponho que a única coisa a fazer é começar de novo pelo princípio, com dados tão elementares que o leitor se indignará talvez de os encontrar aqui mencionados e ficará com a impressão de que insulto deliberadamente a sua inteligência..."
Bertrand Russel, a última oportunidade do homem, Guimarães ed., 141...
Vinha meio nu Trazia uma cesta de vime cheia de amoras que colhera nas margens do rio Passara a tarde toda de silvado em silvado Na sua mão direita um pequeno arranhão _ Tão quente, tão quente esse verão
J. Sousa Braga, o poeta nu (o segredo da púrpura), 143
Aphrodite's Child, spring, summer, winter and fall
[pronto... ninguém é perfeito... hoje deu-me para estas nostalgias adolescentes... embalem-se, balancem-se, deixem-se ir nos trinados, rendam-se aos rodriguinhos da voz... afinal ... não virá mal ao mundo!] rsrsrs
E lá porque é Domingo, dia do senhor, blá blá blá (já sabem o que penso destes dias) não se esqueçam que é dia 5 de Outubro
Foi sem mais nem menos Que um dia selei a 125 azul Foi sem mais nem menos Que me deu para abalar sem destino nenhum
Foi sem graça nem pensando na desgraça Que eu entrei pelo calor Sem pendura que a vida já me foi dura P´ra insistir na companhia
O tempo não me diz nada Nem o homem da portagem na entrada da auto-estrada A ponte ficou deserta nem sei mesmo se Lisboa Não partiu para parte incerta Viva o espaço que me fica pela frente e não me deixa recuar Sem paredes, sem ter portas nem janelas Nem muros para derrubar
Talvez um dia me encontre Assim talvez me encontre
Curiosamente dou por mim pensando onde isto me vai levar De uma forma ou outra há-de haver uma hora para a vontade de parar Só que à frente o bailado do calor vai-me arrastando para o vazio E com o ar na cara, vou sentindo desafios que nunca ninguém sentiu
Talvez um dia me encontre Assim talvez me encontre
Entre as dúvidas do que sou e onde quero chegar Um ponto preto quebra-me a solidão do olhar Será que existe em mim um passaporte para sonhar E a fúria de viver é mesmo fúria de acabar
Foi sem mais nem menos Que um dia selou a 125 azul Foi sem mais nem menos Que partiu sem destino nenhum Foi com esperança sem ligar muita importância àquilo que a vida quer Foi com força acabar por se encontrar naquilo que ninguém quer
Mas Deus leva os que ama Só Deus tem os que mais ama
Querida Isaura:
Não falamos há algum tempo. Como sempre as minudências no dia a dia interpôem-se entre estas nossas conversas. Confesso-te que estou num tempo de ambivalências claras, calma e sobressaltada. Como tu bem sabes há momentos em que a vida resolve mostrar-se de forma inesperada e avassaladora. Da perplexidade instalada decorre uma exigência de acção que começa pelo nosso necessário posicionamento. Encontrar coordenadas em momentos destes torna-se num exercício de remoção quase arqueológica de nós mesmos. A surpresa instalada delimita a manifestação dos sentimentos, a perplexidade encandeia o desenvolvimento de outros e o inusitado parece querer tornar ainda outros impossíveis. São momentos de intensa aprendizagem de nós. Quase uma revisão forçada da toda a matéria dada. Não só a matéria aprendida voluntariamente, mas também a que foi ficando em nós por mero usucapião. É, seguramente, um teste sério e difícil à nossa capacidade para viver bem! De acordo com a conveniência humana.
Querida Isaura, não te maço mais por hoje.
beijos