10 dezembro, 2010

é a vida, esse lugar comum








Kulicke, Robert
flowers on a dark background
(1960)



Trabalhamos juntas num grupo de trabalho em representação das nossas instituições, mantendo, ao tempo, uma relação profissional amistosa. Em momentos de decisão, não raras vezes concertamos posições. Eu deixei o grupo há uns quatro anos e nunca mais soube dela. Há mais ou menos um mês, a propósito de uma outra tarefa completamente diferente da que nos tinha colocado no caminho uma da outra, lembrei-me de que a sua colaboração poderia ser interessante. Convite enviado, a resposta foi pronta e generosa. Ontem fui recebê-la à entrada. O seu ar airoso lá estava a sorrir, embora, logo no tempo dos primeiros olhares e das primeiras palavras, uma certa exuberância que eu lhe conhecia, reflexo do grande empenhamento que coloca no que faz, me parecesse um pouco domesticada. Na fracção de segundo destas percepções houve tempo para admitir que já lá vão quatro anos e que o tempo tem essa capacidade peculiar de, sem alaridos,  nos amainar. - Como te foste lembrar de mim! Depois do meu agradecimento por ter vindo, o minuto que demoramos a chegar junto dos colegas que nos esperavam foi o tempo de um cancro declarado há um ano, operado em período recorde, com as sessões de quimio a recordarem que o espírito positivo ajuda muito mas não evita tudo ... Como é que tu te foste lembrar de mim?! Foi a pergunta insistente no fim dos trabalhos. Gostei tanto de ter vindo, como é que tu te foste lembrar de mim... Há coisas que não são para entender. Basta aceitá-las com humildade.

6 comentários:

R. disse...

E são coisas que podem fazer uma diferença providencial nas vidas que tocam. E, de facto, quando assim é, para quê tentar perceber? Apetece, antes, agradecer.

António P. disse...

Belo texto, mdsol.
Realmente há coisas, também o digo, que não para entender...
Um bom fim de semana

lino disse...

Com humildade e espírito aberto!

jrd disse...

Lições de vida.
Um beijo

Ana Matos Pires disse...

Pois não, António, são para sentir e fazer.

Um abraço apertado,mdsol.

Maria disse...

Dizem que é a vida. Estarei (nem sempre) de acordo.
Mas acredito que tenha sido muito bem reverem-se. Apesar de...

Beijo, Mdsol.