21 março, 2010

há domingos assim (2)






Mazur, M.
early spring
(2000)











HÁ DOMINGOS ASSIM

(continuação)

Não há muito ainda se viam homens simplificados em vultos jogando
talvez ao chinquilho junto da fonte
havia o ruído da ronca agora estou só aqui nesta nova terra
nesta ponta de tudo com os pés nesta desmedida vontade de partir
mas não para aqui ou para ali nem para paisagens sabidas saídas das
páginas de romances
perdidos nos dias da infância nem para cidades distantes onde vivi talvez
oiça vozes de amigos
e devo alguns dias ter-me sentido bem respirar mais fundo num ou noutro
local
partir não para aqui ou para ali mas apenas partir afastar-me daqui
sentir-me ir estando mais longe cada vez daqui sem chegar a sítio
nenhum
caminhar descoberto ao longo dos primeiros caminhos da chuva
...
(continua)
Ruy Belo, toda a terra [I areias de Portugal], todos os poemas, Assírio e Alvim, 488-489

Vanessa da Mata, ir

E, para todos, um bom dia do senhor! :)))

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem, Maria do Sol, gosto também muito de Rui Belo.
Hoje, dia da Poesia, também, gostaria de lhe deixar um poema da açoriana Natália...
Beijinho e votos para que a sua viagem a Moçambique se realize da melhor maneira.

Vai Clóris pelo prado às flores inata,
Branca na brisa, veemente nas verduras,
Mostrando as cores que, no ovo de prata,
Da primeira manhã se uniram puras.


A luz a leva. De Abril festas flamíneas
Espalha seu curso de floridas pernas;
De andorinhas, cerejas e glicínias
Vai remoçando satisfações eternas.


Tempo de amor que ao chão arranca a rosa
E aves nos ramos musical desperta,
Ovário onde a semente jubilosa
Do incorruptível infunde a Primavera.

in O Armistício, As Estações,
Poesia Completa
Dom Quixote, 2007
(o poema ficou desalinhado, consegui melhor)

Rogério G.V. Pereira disse...

e um bom dia, para si, senhora. Domingos assim, de poesia no seu dia

Anónimo disse...

O Senhor não a ouviu e voltou a mostrar a sua ira contra os azuis e brancos. Paciência...
Boa semana!