(Declaração de interesses: Não sou benfiquista nem especial adepta de futebol. Gosto de desporto por motivos que não se esgotam no espectáculo de profissionais).
O Eusébio faz hoje anos
Em 1990 eu estudava fora do país. Num tempo em que Portugal contava ainda menos, nos países da "Europa". Num Sábado, esperava alguém que me ia buscar à residência de estudantes, para passar o fim de semana fora. Para facilitar desci do meu apartamento e esperei no átrio. Nesse átrio "morava" um "mendigo" que, recorrentemente, fugia à segurança social para se albergar naquele espaço quente onde o convívio com os estudantes que ocupavam os 25 andares do prédio lhe permitia (sobre)viver. Era um homem gasto e permanentemente ébrio. Saído do seu torpor interpelou-me quanto à minha nacionalidade. Para evitar conversa (eu mal entendia o que ele dizia) respondi-lhe que adivinhasse. Ele levou a sério e foi dizendo...i taliana, espanhola, turca, grega, iraniana, jugoslava, francesa,...Às tantas, o meu metro e sessenta e pouco, moreno, cabelos e olhos castanhos, já dava para ser holandesa, sueca e sei lá que mais. Portuguesa? Nada... De repente, dei comigo quase furiosa. A minha vontade de o entreter com o exercício de adivinhação, foi completamente virada do avesso, por um assomo de "patriotismo" que nem eu mesma sabia que tinha e que, convenhamos, naquela circunstância era completamente inútil. Segura de mim, disse bem alto: SOU PORTUGUESA, DE PORTUGAL! Sabe?
Soergueu-se um pouco da cadeira de baloiço onde pernoitava e passava os dias a beber cerveja e ronronou absorto...Ah! Benfica, Eusébio...
(repetição revista do post de 25 de Janeiro de 2007)
7 comentários:
e então?!... concluis que...?
que o Eusébio é o maior?! ou que o Sócrates é benfiquista?...
o que o futebol e Fátima é que estão a dar? novamente...
ou apenas pretendias dizer que estudaste "lá fora"?
ou que pior que as citações são as "auto-contemplações"?!...
tiraste-me do riso! imagina...
ora, ora...
herético:
são os riscos
... uma leitura (legítima) mas completamente fora do "meu" alcance. concedo, obviamente, que o texto seja pouco feliz do ponto de vista formal. agora, quanto a conclusões, nada mais ao lado do que senti ao escrevê-lo.
o que aconteceu naquele fim da manhã de sábado é que, num clique, perdi alguns preconceitos e despertei para a compreensão de algumas coisas que, nunca tinha sequer tentado ver de outra maneira (sobranceria minha:
1º) ignorarem o meu país "mexia" comigo...criada antes do 25 não sabia disso...
2º) naquele momento não foi Pessoa, nem Camões, nem Mª João Pires, nem Siza Vieira, nem Óscar Lopes, nem ... que resgataram a minha identidade... doa o que doer foi o Benfica e o Eusébio...ou por ser um "mendigo" a coisa perde importância? é que, para mim, o interesse desta história está axactamente aí...
3º naquele momento o desporto, e o futebol em particular, acerca dos quais eu tinha tantos preconceitos (como tu tens ainda) ganharam para mim significados que eu ainda não tinha compreendido...e tentei comprender...além do mais óbvio
atrevo-me a dizer: o desporto tem as costas largas...
E eu entendo-te perfeitamente. Aconteceu-me algo parecido (mais uma vez o Eusébio e o Benfica) num taxi em Shanghai.
Quanto ao "herético" as conclusões precipitadas que doutamente proferiu - qualidade que me leva a crer que ele estudou ainda mais lá fora do que tu -, sobre o que escreveste...não me parecem que sejam heresias. O que me parecem abstenho-me de o revelar.
Mariadosol, ainda bem que o teu ébrio não falou na Amália senão caía o "Carmo e Trindade".
PS: sou do Benfica, gosto muito de futebol e a Fátima acho imensa graça.
Ah...e curvo-me perante a Senhora Dona Amália...!
Para o “herético”, dedilhemos a guitarra, que ninguém fique encapuçado e cá vai:
Tudo isto é fado
Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado
Eu disse que não sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
E disse que não sabia
Mas vou-te dizer agora
Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado
Se queres ser meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Não me fales só de amor
Fala-me também do fado
É canção que é meu castigo
Só basceu p'ra me perder
O fado é tudo o que eu digo
Mais o que eu não sei dizer
(Aníbal Nazaré)
pulsante:
:) Sabes que eu fiquei com o coração apertado e os olhos rasos de lágrimas naquele momento. Esta história marcou-me e acho que é bonita. Se me detive em algumas "descrições" foi para a história se perceber...se não fosse um prédio de estudantes o "mendigo" seria tolerado e sustentado lá?
bjs
Mariadosol
agradeço-te a amabilidade da resposta. reconheço agora que fui injusto nas minhas apreciações.
a meu favor alego apenas a convicção de que tu conheces bem a "significância" de mitos e ícones. e o reconhecimento de que, no contexto da sociedade portuguesas actual a "reciclagem" do "ícone" Eusébio não será inocente...
(vibro com um jogo de futebol. e com as vitórias do Porto! rsss)
grato.
Pulsante,
a conversa chegou aí? não dei por conta...
Bom dia mdsol,
à data deste post ainda não lia o seu blogue.
Hoje, 7 de Junho de 2010, ou seja dois e anos e meio após este post vim lê-lo por sua sugestão.
Gostei e só confirma :
1º - Benfica e Eusébio ficaram no imaginário de quem gosta de futebol e não só dos portugueses.
2º - Que a mdsol "apanhou" isso excelentemente neste episódio :))
Cumprimentos
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