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Ontem dei comigo a pensar porque é que a tragédia da Madeira me afectava ao ponto de não me deixar tranquilidade para fazer o que tinha para fazer. Sem familiares na ilha, sem meios para intervir além da solidariedade que qualquer português pode prestar num momento destes, reconfortada por saber que os amigos mais chegados estavam bem, confiante de que o possível para recuperar do pesadelo está a ser feito, olhava as imagens com uma angústia profunda e sentia a devastação com a dor de quando pessoas e lugares nos são próximos. Ia no carro para casa, já tarde, a pensar nisto e, de repente, esbocei um sorriso. Contraditório, não é? Não, não é. Simplesmente mudei o registo do meu olhar e dirigi-o para a minha experiência de visita da ilha. Os episódios surgiram-me soltos e em catadupa. Ingénuos e simples, alguns mesmo pueris. Uns engraçados, outros simplesmente curiosos. Pensei, nos restantes minutos que durou a viagem, que poderia retomar aqui alguns. Se o tempo deixar e a disposição aparecer, assim farei.
As inúmeras vezes que estive na Madeira foi sempre a propósito de trabalho e nunca com família. O primeiro motivo do sorriso de que falei atrás, foi ter-me lembrado da cena da máquina fotográfica. Foi há muito tempo, numa das primeiras vezes que fui à ilha. Na véspera do meu regresso ao continente, alguém muito acolhedor, retirou-se dos seus cuidados e insistiu em dar uma volta de carro comigo pela ilha, até um local onde eu nunca tinha ido: Porto Moniz. No tempo em que ainda não havia túneis, as estradas eram más e as distâncias muito maiores do que hoje, fomos do Funchal a Porto Moniz, à ida por uma estrada, na volta por outra, para aproveitar bastante a viagem.
Na altura eu ainda usava máquina fotográfica e, naturalmente, fui tirando fotografias durante os dias em que estive na ilha, também noutros passeios, também com outras pessoas. Chegámos ao Funchal já de noite e, como é muito habitual acontecer comigo, nunca mais me lembrei da máquina fotográfica, que ficou esquecida no carro. Como voei bem cedo no dia seguinte, eu vim e a máquina ficou.
Já estava cá quando, por telefone, o meu amável cicerone me confirmou que sim, que a máquina tinha ficado caída no carro. - Não se preocupe que mando-lha rapidamente pelo correio. Agradeci mais esta amabilidade e desculpei-me pelo incómodo. Percebe-se que, embora conhecidos há algum tempo, não éramos chegados.
Lembro-me de ter dado conta da demora até receber o papelinho para levantar a encomenda nos CTT (sim, isto aconteceu há muito tempo). E lá fui aos correios. Comecei por estranhar a forma do "embrulho". Demasiado grande para a minha máquina de bolso. Abro curiosa e ...tcharaannnnnnnnn! Com uma prestabilidade inusitada, o meu conhecido tinha mandado revelar o rolo e, assim, eu além de reaver a máquina, fiquei logo com as fotografias...
ulhaseunumeportassebem!
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