29 fevereiro, 2008
a realidade é o que é?
by the way:
as "cobras" rodam por aí, espontaneamente, onde menos se espera ... onde deveriam estar paradas...
imagem: "Rotating snakes" Circular snakes appear to rotate 'spontaneously'
em: http://www.ritsumei.ac.jp/~akitaoka/index-e.html
...da minha arca de "num é" ....
28 fevereiro, 2008
doces amigos
27 fevereiro, 2008
prece preocupada (embora atrasada)
_ Menino Deus, Príncipe da Paz, Deus todo Poderoso, lembra-Te do povo de Timor que por Ti foi confiado à minha guarda. Escuta as suas preces, vê o seu sofrimento. Vê como não cessam de Te invocar, mesmo no meio do massacre. Senhor, libertai-os do seu cativeiro, dai-lhes a paz, a justiça, a liberdade. Dai-lhes a plenitude da Vossa graça.
26 fevereiro, 2008
saudades de solidariedades
Nota:
houve um tempo em que viajava muito de carro. Associo esta canção a viagens sem fim no meu clio cor de burro quando foge, de porta amolgada e tremelicante mal eu passava dos 110km...
sendo de Lisboa nunca se importou de me acompanhar dias a fio até C.
A Canção de Lisboa
Jorge Palma
Composição: Jorge Palma
Os serões habituais
As conversas sempre iguais
Os horóscopos, os signos e ascendentes
Mais a vida da outra sussurrada entre os dentes
Os convites nos olhos embriagados
Os encontros de novo adiados
Nos ouvidos cansados ecoa
A canção de lisboa
Não está só a solidão
Há tristeza e compaixão
Quando sono acalma os corpos agitados
Pela noite atirados contra colções errados
Há o silêncio de quem não ri nem chora
Há divórcio entre o dentro e o fora
E há quem diga que nunca foi boa
A canção de lisboa
Mamã, mamã
Onde estás tu mamã
Nós sem ti não sabemos mamã
Libertar-nos do mal
A urgência de agarrar
Qualquer coisa para mostrar
Que afinal nos também temos mão na vida
Mesmo que seja a custa de a vivermos fingida
O estatuto para impressionar o mundo
Não precisa de ser mais profundo
Que o marasmo que nos atordoa
Ó canção de lisboa
As vielas de néon
As guitarras já sem som
Vão mantendo viva a tradição da fome
Que a memória deturpa e o orgulho consome
Entre o orgasmo e a gruta ainda fria
O abandonado da carne vazia
Cada um no seu canto entoa
A canção de lisboa
25 fevereiro, 2008
a propósito de uma canção do Jorge Palma
imagem: "sombra- janela - muro" de Tinta Azul em: www.aluaflutua.blogspot.com
canção "Encosta-te a mim" de Jorge Palma em : http://www.youtube.com/watch?v=Tu9HPz__3ys
Encosta-te a mim
Encosta-te a mim,
nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim,
talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim,
dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou,
deixa-me chegar.
Chegado da guerra,
fiz tudo p´ra sobreviver em nome da terra,
no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem,
não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói,
não quero adormecer.
Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.
Encosta-te a mim,
desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.
Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.
Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo o que não vivi,
um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim
Jorge Palma
23 fevereiro, 2008
verdes linguagens, anos perpétuos
Não são dedos:
são lágrimas.
Não são cordas:
são fios de saudade.
Não é um país: é um coração
que soletra lágrimas
na saudade que temos de nós mesmos.
they are tears.
They are not strings:
they are threads of longing.
It is not a country: it is a heart
That spells tears
in the longing we feel for ourselves.
Mia Couto in Movimentos Perpétuos - Textos para Carlosa Paredes, 82
http://www.youtube.com/watch?v=XwhV1ivYNsQ
22 fevereiro, 2008
a formiga no carreiro traz outro amigo também (para o) coro da primavera
A formiga no carreiro
Vinha em sentido cantrário
Caiu ao Tejo
Ao pé dum septuagenário
Larpou trepou às tábuas
Que flutuavam nas àguas
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro
A formiga no carreiro
Vinha em sentido diferente
Caiu à rua
No meio de toda a gente
Buliu buliu abriu as gâmbias
Para trepar às varandas
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro
A formiga no carreiro
Andava a roda da vida
Caiu em cima
Duma espinhela caída
Furou furou à brava
Numa cova que ali estava
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro
José Afonso, Album: Venham Mais Cinco Orfeu STAT 017 | 1973 | LP-33 rpm | Gravado no Estúdio Aquarium em Paris de
Músicos: Michel Cron, Alain Noel, André Garradot, Michel Bergés, Janine de Waleyne, Jean Claude Dubois, Jean Claude Naude, Michel Buzon, Michel Grenu, Marcel Perdignon, Michel Delaporte e José Mário Branco
Reeditado em:
1973 | CFE Guimbarda PS 30111 | Espanha
1987 | Movieplay SO 3040
1996 | Movieplay JA 8006
Traz Outro Amigo Também
(José Afonso)
Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também
Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também
José Afonso, Album Traz Outro Amigo Também
Orfeu STAT 005 | 1970 | LP-33 rpm | Edição Arnaldo Trindade & Cª. Lda, Porto | Capa: José Santa-Bárbara
Músicos: Carlos Correia (Bóris), colaboração de Filipe Colaço
Reeditado em:
1987 | Movieplay "Série Ouro" SO 3038
1996 | Movieplay JA 8003
Coro da Primavera
Cobre-te canalha
Na mortalha
Hoje o rei vai nu
Os velhos tiranos
De há mil anos
Morrem como tu
Abre uma trincheira
Companheira
Deita-te no chão
Sempre à tua frente
Viste gente
Doutra condição
Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores
Livra-te do medo
Que bem cedo
Há-de o Sol queimar
E tu camarada
Põe-te em guarda
Que te vão matar
Venham lavradeiras
Mondadeiras
Deste campo em flor
Venham enlaçdas
De mãos dadas
Semear o amor
Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores
Venha a maré cheia
Duma ideia
P'ra nos empurrar
Só um pensamento
No momento
P'ra nos despertar
Eia mais um braço
E outro braço
Nos conduz irmão
Sempre a nossa fome
Nos consome
Dá-me a tua mão
Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores
José Afonso, Album Cantigas do Maio Orfeu STAT 009 | 1971 | LP-33 rpm | Gravado no Strawberry Studio, Herouville (França), de 11 de Outubro a 4 de Novembro de 1971 | Edição Arnaldo Trindade & Cª. Lda, Porto | Capa: José Santa-Bárbara | Fotografia: Patrick Ulmann | Som e mistura: Gill Sallé e Christian Gence
Músicos: Carlos Correia (Bóris), Michel Delaporte, Christian Padovan, Tony Branis, Jacques Granier, Francisco Fanhais e José Mário Branco
Reeditado em:
1974 | LP Hispavox | Espanha
1974 | LP Vedette Zodiaco VPA 8219 | Itália
1974 | Chante du monde LDX 74558 (Agora Harmonia Mundi) | França
1975 | LP Plane S88 115| Alemanha
1987 | Movieplay "Série Ouro" 3002
1996 | Movieplay JA 8004
1996 | Círculo de Leitores Orlador 2049
2000 | Westpark CD 842282 | ?
Zeca Afonso imagem em: http://www.blogoteca.com/upload/bit/arti/591-12754-a-ZecaAfonso.jpg
21 fevereiro, 2008
miminho
cheia de heresias
ENXURRADAS nunca...é que, como ser humano, sinto o dever de NUNCA, mas NUNCA justificar meios duvidosos para atingir fins, por mais "benélovos" que sejam.
Gosto muito da ideia de ideal...já me inquieto bastante com a ideia de utopia...
É que, na prática, no bem bom da acção concreta, foi em nome de utopias (lindíssimas) que se cometeram (d)as maiores barbaridades da história humana.
Em vez de utopia temos distopia...
Um dos filmes que mais me marcou foi o Fahrenheit 451, de François Truffaut, de 1966, com a bela Julie Christie e Oskar Werner e baseado no livro (distópico) com o mesmo nome, de Ray Bradbury.
18 fevereiro, 2008
16 fevereiro, 2008
um beijo para a minha amiga C. num dia em que as saudades começam
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil endureceu
Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito,
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti - não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto - sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
Miguel Torga : Diário IV (1949)
detail-from-The-Three-Ages-of-Woman-c-1905-Posters_i825888_.htm
13 fevereiro, 2008
um ar de ...bilhete postal
há pouco mais de um ano fui passar um fim de semana alargado a Florença (não preciso de gastar mais palavras...ainda para mais tive sorte com o tempo...tudo perfeito)...
no último dia, antes de virar para o meu hotel para ir buscar a mala e seguir para o aeroporto, olhei de longe (consciente e demoradamente) para a Ponte Vecchio... assim ... a dizer adeus como deve ser...
estava eu neste interlúdio amoroso e grato com a cidade (e o que ela representa)....e... de repente a cabeça fica-me cheia com... O PORTO É TÃO BONITO.
senti-me como se estivesse a trair alguém eheheh
beijos de quarta-feira
imagem Porto em: http://diarioportugal.wordpress.com/2007/10/27/porto/
a imagem é comum, mas .....eu não fotografo... :((
minas de vida
nome genérico das substâncias indispensáveis ao crecimento, na sua maior parte fornecidas pela alimentação, com actividades muito diversas, que o organismo não é capaz de sintetisar e cuja carência provoca perturbações características.
hoje (ontem), num espaço inesperado, sintetisei algumas...
como não estou a crescer... é bom para não mirrar ...
imagem: estrutura do ácido ascórbico (eheeh Vitamina C para os amigos)
11 fevereiro, 2008
tempo de amêndoa amarga
10 fevereiro, 2008
acácias floridas
E não há-de ser por acaso que hoje os meus dois post são referidos às palavras e à música. Duas artes que ele cultivou enquanto pode. Duas artes com que não deu "confiança" ao Parkinson que lhe bateu cedo demais à porta (ele é um ser tão delicado que, até para desfeitear uma doença, usou palavras alinhadas em caligrafia de artista, musica do seu violino e os seus trabalhos em madeira.)... Não tenho um dos seus carrinhos de chá, mas tenho um soneto que me dedicou...
Gosto tanto do meu tio que faz hoje 88 anos!
certa música
não fui capaz de copiar o vídeo (eu e as minhas limitações com a tecnologia)
mas, ainda assim,
aqui fica um extrato do Klavierkonzert Nº5 "EMPEROR" Concerto, de Beethoven, de que gosto muito
a "versão" que tenho em CD é da Deutsche Grammophon, com a Filarmónica de Viena, dirigida por Karl Boehm e com Maurizio Pollini no piano
(esta versão é o que consegui arranjar no you-Tube)
by the way
a música enche-me de tal modo a alma que sou incapaz de estar a trabalhar e a ouvir música
(quando dava por mim estava mas é a "curti-la")
como não sou entendida,
gosto do que gosto e não do que (dizem que) se deve gostar
mas, isto acontece-me:
com o que leio, com as pinturas que tento ver, com as pessoas com quem me dou...
em relação a afectos (e afectações!)
não abro mão dos meus critérios ...
renúncias ganhas
Certas palavras não podem ser ditas
em qualquer lugar e hora qualquer.
Estritamente reservadas
para companheiros de confiança,
devem ser sacralmente pronunciadas
em tom muito especial
lá onde a polícia dos adultos
não divinha nem alcança.
Entretanto são palavras simples:
definem
partes do corpo, movimentos, atos
do viver que só os grandes se permitem
e a nós é defendido por sentença
dos séculos
E tudo proibido. Então, falamos.
Carlos Drummond de Andrade
07 fevereiro, 2008
05 fevereiro, 2008
das raízes...
CONTEMPLAÇÃO
Num berço de granito
Com a manta do céu
A cobrir-lhe a nudez,
A minha infância dorme.
Nem bruxas nem fadas
A velar-lhe o sono.
No mais puro abandono
Do passado.
Respira docemente,
Enquanto eu, inútil enviado
Do presente,
Sobre ela me debruço,
E soluço.
Miguel Torga, Diário VIII in Antologia Poética Ed Círculo de Leitores, 322
04 fevereiro, 2008
ó entrudo ó entrudo, ó entrudo chocalheiro, que não deixas assentar as meninas ao soalheiro...
O Carnaval sempre foi sinónimo de folia, pândegas e descomedimento. Ainda assim é o Carnaval nos nossos dias. Mas do verdadeiro Entrudo português, caceteiro, ofensivo e muito avinhado, pouco resta. Foi substituído pelo ritmo frenético dos sambas e pelo manear de ancas de baianas, que se fazem estrelas pelos carnavais do mundo. Mas ainda há espaço para a tradição, para os Enterros do Entrudo, as "cacadas" ou "paneladas", os ditos do "botelho", as enfarruscadelas e troças, típicas do velho entrudo que já poucos lembram.
Maria João Silva in Terras da Beira, http://www.freipedro.pt/tb/220201/soc1.htm
03 fevereiro, 2008
02 fevereiro, 2008
antropofagia
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
Carlos Drummond de Andrade
(primeiramente publicada em 1928, na Revista de Antropafagia)