11 setembro, 2008

tentar olhar o "meu" copo meio cheio (re-editado)




Grant, H.
hope floats


No dia 11 de setembro de 2001 voltei para casa mais cedo. Nem o sufoco em que estava me permitia trabalhar, nem a estupefacção me deixava articular um lugar onde me situasse, com a firmeza necessária para aguentar a brutalidade do momento. Do pasmo inicial passei para a busca de algumas justificações. Mas, como sempre, razões não são motivos. E, por muitas razões de queixa que haja, há motivos superiores que deveriam evitar aquela violência desconforme. Só sabia uma coisa. Nada, mas nada, nem o maior pecado do mundo, nem todos os pecados do mundo juntos, justificavam uma acção daquelas. Como não justificam muitas outras crueldades, eu sei!
Cheguei ansiosa. Toquei à porta apesar de ter a chave comigo. Sabia que o meu filho estava em casa porque lhe telefonei, mal dei conta do que se estava a passar:
_ J. que porcaria de mundo te vamos deixar!
_ Se é que nos deixam algum...

Abraçamo-nos muito, como quem se quer muito bem se abraça nas alturas graves. Os olhos marejados selaram o recolhimento que se seguiu. Sim, talvez lhe deixe algum mundo. Talvez...

No dia 11 de setembro de 1973 não me recordo exactamente onde estava. A caminho da capital seguramente. Sei que, passado pouco tempo, numa escola que frequentei, conheci a minha primeira amiga do Chile. A C. estava em Portugal, exactamente porque, no dia 11 de setembro de 1973, choveu em Santiago!


John Lennon, imagine

16 comentários:

luis lourenço disse...

Maria do Sol!

Esta memória profunda é tão catártica e um bálsamo salutar para a nossa alma!...tão terrível que também choca o artista que a transfigura na sua esperança imensa.

Abraços

Aqueduto Livre disse...

Caríssima,

Não se sinta derribada por uma tarefa d'Atlas, o portador do Universo.

Esse mundo, de que fala, não é o seu.

Deixe, e sei que pode fazê-lo, ao seu filho o "SEU" mundo, que é bem bonito, fermoso e semeado de sensibilidade: esse, o seu, o filho não só vai querer ficar com ele, como património,mas vai assumi-lo - como DELE.

Abraço,

Zé Albergaria

PS - Aqui venho todos os dias e, para não ser abusador, de quando em vez, deixarei um ou outro comentário.

António Torres disse...

Liberdade,
(adaptação livre sobre um poema de Vinícius de Moraes)

"Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinita enquanto dure."

:)))

Unknown disse...

No 11 de Setembro, àquela hora, estava num lugar onde havia imensos televisores, por motivos de trabalho.
Mas, foi um telefonema da minha mãe, que nos fez a todos olhar para eles e não querer acreditar!
O meu marido estava no Japão, em trabalho [que duraria 2 longos meses], a jantar sushi, em frente a outros televisores, onde nem uma imagem passou. Fui eu que lhe dei a notícia, quando me ligou na manhã seguinte, lá, 3 da madrugada, aqui.
Ficámos a matutar na "indiferença" mediática japonesa... ainda hoje me custa a acreditar nela, como me custa a acreditar no que vi, aqui.
[Beijo]

~pi disse...

lindo, maria do sOl! :)

imagine imagine

imagine




~

Tinta Azul disse...

Dentro do MUNDO há muitos mundos. Felizmente.
:)

Jardineiro de Plantão disse...

Choveu em Santiago... Choveu em Nova York... choveu em Bagdá... o que não falta é chuva... que planeta vamos deixar... e não é só a chuva que me incomoda... não.

Abraços

Myriade disse...

1991 ?? Erro ou trata-se dum acontecimento privado ??

mdsol disse...

wolkengedanken:

Atenta! Obrigada... Já corrigi!
:))

Sensualidades disse...

nao me lembro onde estava , sei qeu fiquei chocada e com uma sensacao de inseguranca

Jokas

Paula

Esmeralda disse...

mdsol, passei mesmo apenas para te mandar uma beijoca e dizer-te que este tema musical foi muito bem escolhido. É lindo!!
Pois eu em 1073, deveria estar numa das minhas vidas anteriores, pena, ter vindo para esta, deveria mesmo ter atravessado a altura desses meninos de cabelo à tigela, que cantavam e encantavam...
...e que hoje ao ouvir discos e cd's me deixo encantar.

Já du para perceber que sou fã...
eheheheh

beijocas

Duarte disse...

Um dia para esquecer sem olvidar.
Impressionou-me, e muito...

Abraços

Manuel Veiga disse...

nada justifica a morte, claro...

... e morreram milhares de pessoas em Santiago. como bem sabes.

beijo

cristal disse...

Não podias escolher melhor, para acompanhar estas memórias, do que a canção de esperança do Jonh Lennon. Imagine, não por acaso, uma das minhas (poucas) canções preferidas.

Juani disse...

ese dia yo estaba comiendo con una amiga y ninguna dabamos credito a lo que estabamos viendo por la television, fue muy impresionante
esperemos que no se vuelva a repetir en la vida
saluditos

bettips disse...

O filme "Chove em Santiago" é das coisas mais espantosas de lucidez, o jogo de como as coisas se passam, preparadas. Quer seja no segredo dos gabinetes quer seja nos buracos das montanhas. Mas cada vez mais me convenço que "os gabinetes" funcionam melhor e ficam sempre "de mãos limpas".
Bjinho