30 janeiro, 2010

coisas de cadernos guardados

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Serra, R.
promenade notebook (III)
(2009)










CADERNO I

Quando me perco de novo neste antigo
Caderno de capa preta de oleado -
Que um dia rasguei com fúria e que um amigo
Folha a folha recolocou com vagar e paciência -

Tudo me dói ainda como faca e me corta
Pois diante de mim estão como sussurro e floresta
As longas tardes as misturadas noites
Onde divago e divagam incessantemente
Os venenosos perfumes mortais da juventude

E dói-me a luz como um jardim perdido

Sophia de Mello Breyner Andresen, caderno I, o nome das coisas


Enigma, mea culpa (MCMXC)

sábado de manhã (93)







Talentino, E.
in repose
(2009)

28 janeiro, 2010

cantigo








Thorpe, M.
someone to love










CANTIGA

É pelo teu rosto em que as marés passam,
pelos teus lábios em que voam gaivotas,
pelos teus dedos em que a luz perpassa,
pelos teus olhos que me traçam as rotas,

que este barco encontra o caminho
que este dia descobre que não é tarde,
que as palavras se bebem como vinho,
e o fogo não queima quando arde.
...

Nuno Júdice, a matéria do poema, dom quixote, 96


Lisa Ekdahl - att älska är större

26 janeiro, 2010

homenagens (2)

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Hiigli, J.
ode to Malevich
(s/data)






Gosto destas homenagens. Revelações dos mais elevados sentimentos...Como já tinha dito aqui.

23 janeiro, 2010

20 janeiro, 2010

bis bald







Fedden, M.
still life with roses 
(1981)








  

 

18 janeiro, 2010

desassossegos quietos








Williams, L..
you get so alone at times that it just makes sense
(2006)







A tristeza resignada desarma a vida e adia-a até ao impossível. Um mal silencioso e encoberto que, ironicamente, chega a ser visto como um bem raro.
Gostei muito de ler este texto. Continuei a gostar dos comentários que motivou. Aqui fica o convite para o lerem e, quem sabe, comentarem com os vossos próprios traços.

Milton & Maria Rita, tristesse (copiei a ideia da música daqui)

manhã de segunda, mas uma boa semana (19)

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Parsons, S. 
the edge of tomorrow
(s/ data)






Apesar dos desastres naturais, dos desastres construídos, e das, também escusadas, "inflamações" de cada um, que a semana seja leve, quente e com uma actividade muito serena. :))

O AMANHÃ
A cigana leu o meu destino
Eu sonhei!
Bola de cristal
Jogo de búzios, cartomante
E eu sempre perguntei
O que será o amanhã?
Como vai ser o meu destino?
Já desfolhei o mal-me-quer
Primeiro amor de um menino...
E vai chegando o amanhecer
Leio a mensagem zodiacal
E o realejo diz
Que eu serei feliz
Sempre feliz...
Como será amanhã?
Responda quem puder
O que irá me acontecer?
O meu destino será
Como Deus quiser
Como será?...
Como será amanhã?
Responda quem puder
O que irá me acontecer?
O meu destino será
Como Deus quiser
Mas a cigana!...
A cigana leu o meu destino
Eu sonhei!
Bola de cristal
Jogo de búzios, cartomante
Eu sempre perguntei
O que será?
(O que será?)
O amanhã?
(O Amanhã?)
Como vai ser?
(Como vai ser?)
O meu destino?
Já desfolhei
(Já desfolhei!)
O mal-me-quer
(O mal-me-quer!)
Primeiro amor
(Primeiro amor!)
De um menino...
E vai chegando o amanhecer
Oh! Oh! Oh! Oh!
Leio a mensagem zodiacal
E o realejo diz
Que eu serei feliz
Sempre feliz...
Como será amanhã?
(Como será?)
Responda quem puder
O que irá me acontecer?
O meu destino será
Como Deus quiser
Como será?...
Como será amanhã?
(Como será?)
Responda quem puder
(Quem sabe é Deus!)
O que irá me acontecer?
O meu destino será
Como Deus quiser
Como será?...
Como será amanhã?
Responda quem puder
O que irá me acontecer?
O meu destino será
Como Deus quiser
Como será?

Composição João Sérgio

Simone, o amanhã
[É ouvir, minha gente, que é levezinha e airosa...:))]

17 janeiro, 2010

flores claras





Gallace, M.
January flowers
(2004)





Quase recuperada das minhas tosses (alérgicas e não só), inflamações brônquicas e pulmonares, que me têm obrigado a algum descanso, bastantes pastilhas e muitos líquidos, espero que, dentro do possível,  passem um bom dia do senhor. :))
[Estou desculpada por andar pouco "visitadeira" e ainda menos "comentadeira"?]
Teresa Silva Carvalho, adagio (poema de Ary dos Santos)

[Sempre gostei da voz da Teresa da Silva Carvalho. Sinto-a quente sem ser dengosa, suave e ampla, sei lá.... Gosto muito]

16 janeiro, 2010

vítimas (2)

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Tuymans, L.
within
(2001)





Não é demais lembrar as vítimas. Todas as vítimas. As vítimas mais vítimas. Por elas, por nós, tenhamos gestos que possam ajudar a aliviar-lhes a dor. Destas ou de outras maneiras. Aqui o NIB e os dados do multibanco da AMI.

cópia descarada

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Dusart, C.
two monks fighting
(1690)

Abrantes e Pachequinhos. E eu que não sabia  de nada. Ide ler [aqui]. É interessante ver como o agonismo, a disputa que faz parte da luta política também é desviada para estas coisitas pequenininhas. A resposta, merecida também podia ser "os Marmeleira(s)", seguindo o critério de o epíteto também designar um local.

sábado de manhã (91)

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Vuillard, E.
au lit
(1891)

15 janeiro, 2010

o "marquetingue" da clínica e o "marquetingue" da senhora da pastelaria







White, Dav.
stunning surprise
(2009)




Por motivos que agora não vêm ao caso, fui fazer análises a uma clínica diferente da usual. Naturalmente fui em jejum. Eis senão quando, e para meu espanto, com o recibo do pagamento feito e do talão para levantar os resultados mais tarde, recebo uma senha para tomar o pequeno almoço numa pastelaria ali muito perto. Ora bem!
E eu lá fui, até porque era prático. Mas tive de tomar o que a senhora que me atendeu sugeriu, de entre a lista que me apresentou. Mesmo argumentando que pagava o excesso se fosse preciso, ela foi peremptória: não faça isso, senão tenho de lhe levar o preço de balcão. Vai desaproveitar a senha?
E eu aceitei o "galon" e a torrada.

:))))

14 janeiro, 2010

desta janela digo olá bom dia (2)

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Basso, J.
amanacer de invierno
s/ data




Agora que a chuva amainou o silêncio fica ainda mais quieto.


George Winston, rain

13 janeiro, 2010

vítimas

Oito maneiras de ajudar as vítimas. Fica-se sem palavras, e sentimo-nos impotentes, não é? Que cada um de nós faça o que estiver ao seu alcance.  Por pouco que pareça, decerto será muito para ajudar as vítimas.

meter muita água

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Hammond, M.
city in rain









A barragem do Alqueva atingiu pela primeira vez.
A CPC atingiu dez vezes, dizem.


Jane Birkin & Serge Gainsburg, je t' aime, moi non plus

11 janeiro, 2010

realidades claras desde há muito tempo p'ra quem quiser ver

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Picasso, P.
o sonho
(1932)











LEMBRA-ME UM SONHO LINDO

Lembra-me um sonho lindo
quase acabado,
lembra-me um céu aberto
outro fechado
Estala-me a veia em sangue
estrangulada,
estoira num peito um grito,
à desfilada
Canta rouxinol canta
não me dês penas,
cresce girassol cresce
entre açucenas
Afoga-me o corpo todo
se te pertenço,
rasga-me o vento ardendo
em fumos de incenso
Lembra-me um sonho lindo
quase acabado,
lembra-me um céu aberto
outro fechado
Estala-me a veia em sangue
estrangulada,
estoira num peito um grito,
à desfilada
Ai como eu te quero,
ai de madrugada,
ai alma da terra,
ai linda, assim deitada
Ai como eu te amo,
ai tão sossegada,
ai beijo-te o corpo,
ai seara, tão desejada
Fausto


Fausto, lembra-me um sonho lindo

manhã de segunda mas uma boa semana (18)




Stuelpnagel, D.
s/ título
(2002)



Uma boa semana. Quem sabe se por caminhos novos.!



Ella Fitzgerald, what is this thing called love

10 janeiro, 2010

diva gação

O casamento entre pessoas do mesmo sexo é somativo e não sumativo. É uma soma e não uma súmula. Sendo soma fica a divisão, a subtracção e a multiplicação para os demais.

flores quentes






Szaggars, S.
harmony of peace
(2006)









Um dia do senhor em paz e harmonia.
Deixo flores quentinhas para todos. Daqui da capital fria que não quis destoar da paisagem ...
E como eu gosto de voltar...Mesmo com frio.

09 janeiro, 2010

sábado de manhã (90)





Toulouse-Lautrec, H. de
reclining nude
(1897)

08 janeiro, 2010

exaltações




Gussow, A.
cold elation
(1970)






Mais do que exaltar o frio, acho o frio um bocado exaltado.

06 janeiro, 2010

mi humilde candil

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 Dortch, J.
light in the dark
(s/ data)








EL sol nos olvidó ayer sobre la arena,
nos envolvió el rumor suave del mar,
tu cuerpo me dio calor; tenía frío,
y allí en la arena
entre los dos nació este poema,
este pobre poema de amor para ti.
Mi fruto, mi flor,
mi historia de amor,
mis caricias.
Mi humilde candil,
mi lluvia de abril,
mi avaricia.
Mi trozo de pan,
mi viejo refrán,
mi poeta.
La fe que perdí,
mí camino
y mi carreta.
Mi dulce placer,
mi sueño de ayer,
mí equipaje.
Mi tibio Rincón,
mi mejor canción,
mi paisaje.
Mi manantial,
mi cañaveral,
mí riqueza.
Mi leña, mi hogar,
mi techo, mi lar,
mi nobleza.
Mi fuente, mi sed,
mi barco, mi red
y la arena.
Donde te sentí,
donde te escribí
mi poema.

Juan Manuel Serrat, poema de amor

frio

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Groot, Pat de
cold day
(2006)









Há dias frios por dentro.



Melanie, the saddest thing

05 janeiro, 2010

Blogomenagens (5)

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O Delito de Opinião faz hoje um ano. Começou assim. Cheguei ao DO por sugestão do Carlos Barbosa de Oliveira que eu já seguia, com alguma regularidade, no Crónica do Rochedo. A minha história com o DO é uma história de simpatia blogosferica assumida. Nunca até ao DO tinha tentado perceber o que se passava nos grandes blogues colectivos. Dava a vista de olhos que entendia e ia à minha vida. Porque me liguei tanto ao DO? É que sendo uma grande superfície da blogsfera o cliente é tratado como no comércio tradicional. Isso mesmo. A cortesia dos autores, a correcção do português, a simpatia das respostas aos comentários, a variedade dos assuntos, o sério e o lúdico lado a lado, a diversidade a forma elevada como se tratam entre si e como tratam quem lá vai. Nem sempre estou de acordo com o que dizem. Mas nunca discordei do modo como o dizem. Fazem-me sentir muito bem no DO. E eu gosto muito de me sentir lá bem. Nesta idade, habituei-me a gostar do delito! :)



Parabéns aos autores. Muito obrigada a todos  pela boa companhia durante este ano. Espero que continuem por muitos mais. Um cumprimento especial para a Leonor, a Ana Vidal, a Teresa Ribeiro, o João Carvalho, o Pedro Correia, o Carlos Barbosa de Oliveira, o José Gomes André, o Sérgio de Almeida Correia, o António Manuel Venda, o André Couto e o Coutinho Ribeiro. E para a Ariel e a Maria e a Chloé ...






As flores são da Sibylle Szaggars, [S. Szaggars, interweaving their fragrances (s/ data) ], os parabéns são cantados por gatinhos e anunciados em chinês.  Tchim tchim



貓貓唱祝你生日快樂

04 janeiro, 2010

manhã de segunda mas uma boa semana (17)

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Lala, L.
fresh start
(s/ data)




Podemos repetir-nos ou recomeçar de um lugar diferente. Recomeçar um pouco mais acima, mais além. A inevitabilidade de um percurso ascencional, a inevitabilidade de resistir, a inevitabilidade de não desistir, a inevitabilidade de bem existir.

Tudo isto é muito bonito, mas é lero-lero. E o lero-lero não resolve nada. Quando me lembro que o actual PR pode muito bem ser reeleito neste ano que agora começa, apetece-me migrar para os Farilhões. Quando me lembro que vou reencontrar alguns colegas de trabalho, apetece-me migrar para as Desertas... Quando me lembro da crise, global e particular... Quando me lembro... Neste momento é meu propósito continuar a lembrar-me, fazer por nunca me esquecer e agir em conformidade.

A quem aqui chegar desejo força para recomeçar sempre. E uma semana vermelhinha de afectos, verdita de ternura, azulzinha de afagos e sem sorrisos amarelos.]
:))))


Jane Monheit, começar de novo  (ouçam este sotaque...)

03 janeiro, 2010

rei capitão soldado ladrão menino bonito de bom coração

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Enigma, between mind and heart

"Between Mind & Heart"

It's hard to find the balance when you are in love.
You're lost in the middle cause you have to decide between mind & heart.
HEART is the engine of your body but BRAIN is the engine of your life.
between mind & heart
between mind & heart
between mind & heart

A letra parece-me um equívoco. Acho piada à distinção entre o papel do coração e do "brain", mas não me parece que seja uma oposição fundadora. A menos que a racionalidade seja de tal modo tomada, que aponte para um egocentrismo definitivo e prescinda do amor. O que não me sugere nada de interessante. Alguém se torna pessoa sozinho? Alguém se faz gente sem os outros? Aliás, o amor pode ser completamente redentor e salvar a vida. E se a falta de "brain" pode ser uma imensa maçada, a falta de amor, seja qual for a forma em que ele falte, é que pode desperdiçar, essa mesma vida, retirar-lhe parte do essencial, do intangível, do sublime, do que não se mede a não ser pelo que se sente.





Pagk, P.
home is where the heart is
(2008)











Bueno, G.
Captain Brain
(2006)

02 janeiro, 2010

eres tu?


Mocedades, eres tú

Desencantei isto. E dei comigo a trautear. Aqui fica... :))

Se virem que tal trauteiem também e acompanhem o ritmo com batimentos compassados de fácil execução para destrímanos sinistromanos ou ambidextros... Uma autêntica vertigem de sábado à noite...  eh eh eh eh. Do que eu me fui lembrar, não é?

sábado de manhã (89)

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Schiele, E.
the artist's mother, sleeping
(1911)




[Assim foi hoje. Apesar de já ser tarde dormia como uma menina. O que ela voltou a ser.]

01 janeiro, 2010

branco luar






Ju, Ann Kook
a part of confabulation in the moonlight
(2007)











XLVIII

Esta noite a loucura do meu ofício
privilegia os falcões;
vou morrer; à altura da boca
o mar pode ser a casa.

A manhã expulsará o sol do olhar;
fui alto para ver a neve,
para colher a transparente e verde
fragrância do ar.

Ninguém pode suportar de olhos abertos
o peso do mundo;
com a noite foram-se os cavalos;
partem para não morrer.

Eugénio de Andrade, branco no branco, 58


Beethoven, sonata ao luar, (1º and.) - piano: A. Rubinstein

ano bom 2