27 dezembro, 2007

faculdades dos feijões


Almada Negreiros numa imagem feliz falava de uma mesa cheia de feijões e esclarecia o gesto de os juntar num montão único e o gesto de os separar, um por um, do dito montão. Também considerava bem mais simples e a exigir menos tempo o primeiro gesto.
Falando de território (em vez de mesa) e de pessoas (em vez de feijões), o trabalho de juntar todas as pessoas num montão único é menos complicado do que o de personalizar cada uma delas. Ainda continuando com A.N. o primeiro gesto de reunir, aunar, tornar uno, todas as pessoas de um mesmo território é o processo de civilização. O segundo gesto, o de personalizar cada ser que pertence a uma civilização é o processo da cultura. Percebo com A.N. que é mais difícil a passagem de civilização para cultura do que a formação da civilização. A civilização é um fenómeno colectivo. A cultura é um fenómeno individual. Não há cultura sem civilização, nem civilização que perdure sem cultura. A.N. acrescenta: Justaposição disto mesmo a Portugal: uma civilização sem cultura. As excepções, inclusive as geniais, não fazem senão confirmá-lo.

Pois! E eu ao escrever isto só me apetecia trocar território por F.....
Decerto dou valor a quem "civilizou" as barracas iniciais. O problema está em que só se apostou verdadeiramente na ideia de "ajuntar" e nunca se passou à valorização das virtualidades de cada um, aceitando verdadeiramente o contributo das diferenças. Conclusão: com o argumento definitivo de estarmos sempre juntos, nunca mais se admitiu que deveríamos ficar juntos exactamente por sermos diferentes e os que foram ficando mais juntos e mais rapidamente colados são exactamente os mais iguais.

Feijões ao monte e fé em Dios


3 comentários:

Anónimo disse...

Depois de ler esta prosa ensaística, apetece mesmo virar costas a este tacho de feijoada, sem nome culinário.

É uma metáfora tão realista, que ninguém acreditaria.

Será por isso que este país parece uma (des)construção surrealista?

Qualquer dia os feijões de tão cozinhados viram uma papa descolorida e estão prontos para ir para o caixote do lixo, com o tacho e tudo.

Vai ser é um problema para a reciclagem... Mas que importa?

A minha mãe acha que, no final, os resíduos vão todos parar ao mesmo sítio e que esta publicidade é, apenas, mero treino. É para fazermos bonito para os turistas europeus e nos portarmos bem se formos viver para a europa.

Eu acho que é mau, andar a mentir às crianças, enfim!

Bj

mdsol disse...

um ar de

:))

Mariadosol

Tinta Azul disse...

Ora vê este meu post antigo
http://aluaflutua.blogspot.com/2007/10/civilizao-e-cultura-por-almada.html .
:)))