29 março, 2007

Jejum e abstinência do avesso

Não me refiro aos preceitos que, na Quaresma (em que nos encontramos), a igreja católica impõe aos militantemente praticantes. A minha necessidade de jejuar e de me abster resulta exactamente do contrário daquilo que preside às intenções da igreja católica. Ando a jejuar de alguns lugares e de algumas pessoas, não para me martirizar com a ausência, mas para não me martirizar com a presença. E, nos casos de necessidade de abstinência, é exactamente porque me faz muito pior a companhia do que a sempanhia (! - inventei agora ehehe). Resumindo: o sacrifício estaria em não jejuar e em não me abster.

Ando a ficar cá uma hedonista!!! A continuar neste ritmo ainda acabo a pintar as unhas. Ou, quem sabe, num assomo de ousadia, a pintar os bêços.

26 março, 2007

Soneira (televisiva)

O Tonho de Santa Comba ganhou o concurso televisivo. Vai, agora, para a galeria dos Zés Marias e restantes small brothers que, às vezes, o povo português prefere quando lhe vem ao de cima o provincianismo, a mesquinhez, o pensamento cínico-pequenino, seráfico-caridosozinho, caciqueiro e retorcido nos meandros da falta de luz.

Ai ai, esta mediania deslavada...

Raispartam os 48 anos que têm uma cauda comprida cumó dianho(!).

Agonia(s)

Uma coisa é o Agon. Sim, importa ganhar. E para ganhar, nesta forma de colocação das coisas, naturalmente que é necessário ser primeiro. O que implica ser melhor, no sentido mais profundo do que se faz. Fazer bem e ser melhor numa mescla do correctamente executado com o eticamente limpo.

Nem sequer tenho ilusões ... Afinal somos todos filhos do Caim. Mas...

O Agon que me agonia é aquele que só pressupõe ser primeiro, mesmo que ser um primeiro aldrabado em que aretê, excelência individual, fazer o melhor que se pode fazer...não entram na contabilidade do rumo do percurso desenfreado até ao lugarzito.

23 março, 2007

Quando até o sol mete dó....

Cito de memória o Miguel Torga no seu diário XV (acho eu): Quando os homens descrêem de si, então é que os deuses podem tudo.

Não me revejo na atitude derrotista com que se encaram os desafios colocados pelas dificuldades e mudanças do momento que vivemos. Vejo em alguns desânimos uma ponta de frustração e de permanência em hábitos de acção já há muito solidificados. Vejo em alguns desalmados uma atitude profundamente egoísta que os torna incapazes de pensar além da sua marquise (!).

Nota: Embora desanimados e desalmados estejam (momentaneamente?) "sem alma" a diferença é por demais evidente. Com os primeiros tenho compaixão e sou impelida a "espicaçá-los" a manterem-se em voo, a reanimá-los, mesmo que, pessoalmente, não ganhe nada com isso. Aos segundos perco-lhes o respeito. E como gosto de pessoas fico triste quando isso acontece. Lamento os "contentinhos de si", com raciocínios do tipo: pois, pois, está tudo muito bem, mas o meu lugarzinho ao SOL está garantido e quem está à sombra ou tem de ficar ao frio... olha, que tivesse es"gravatado"a tempo.
Porque carga de água logo havia eu de ter crescido com um entendimento da vida SOLidário? ....

21 março, 2007

idaevolta

"...o que resta aos interlocutores que não se compreendem mutuamente é reconhecerem-se uns aos outros como membros de diferentes comunidades de linguagem e a partir daí tornarem-se tradutores. Tomando como objecto de estudo as diferenças encontradas nos discursos no interior dos grupos ou entre esses, os interlocutores podem tentar primeiramente descobrir os termos e as locuções que, usadas sem problema no interior de cada comunidade, são, não obstante, focos de problemas para as discussões intergrupais. Depois de isolar tais áreas de dificuldade de comunicação científica, podem em seguida recorrer aos vocábulos quotidianos que lhes são comuns, num esforço para elucidar ainda mais os seus problemas.
...A tradução, quando levada adiante, é um instrumento potente de persuasão e conversão, pois permite aos participantes de uma comunicação interrompida explicarem vicariamente alguma coisa dos méritos e defeitos recíprocos."
" in A Estrutura das Revoluções Científicas, Thomas Kuhn, p.248/249

Mal comparando... (estou muito ciente da desproporção da comparação!!!!eheheh)
Dou-me conta de que tenho tentado ser uma tradutora. Inicialmente por intuição e recorrendo à linguagem dos afectos. Vou a Lisboa por desporto e volto ao Porto mais humana. De um certo ponto de vista sou mestiça. Diversidade? Sim, enriquece. Adversidade? Vá lá enrigesse (eu sou optimista...)

Ser ou não ser de Braga também é uma opção.

"A política, vista como um processo que dá acesso às instituições governamentais, abarca a capacidade para influenciar a sociedade de uma forma que beneficie alguns actores em deterimento de outros. As questões são complexas, mas parece-me que têm dois princípios fundamentais. O primeiro é que, numa sociedade em rede, a política é a política dos media. Os media não são precisos apenas quando há eleições para ganhar. São durante todo o tempo o pano de fundo, o espaço público onde o poder é jogado e decidido. A outra regra é a de que a arte da política está sempre no centro. A dinâmica de todos os sistemas políticos leva a que existam dois campos e é no centro que eles competem. Cada um tem garantidos os votos dos seus apoiantes, pelo que a competição é pelos 10% que sobram. Isto significa que as posições tradicionais dos partidos são sempre diluídas, e a política que é vista como sendo determinada por uma ideologia única está condenada à derrota."
in Conversas com Manuel Castells, de Manuel Castells e Martin Ince, pp 91/92.

A (des)propósito

É vê-lo evoluir ao colo dos media. (Esta frase não é uma citação, muito menos sic!!!). Pois ele é um programa com o nome pretensioso de "Estado da arte", como se ali estivesse a cabecinha iluminada e única, capaz de fazer o balanço regular do que é importante. Pois ele é o amparo e a divulgação de qualquer suspiro que lhe apeteça dar. Pois ele é...
Nunca o suportei. É um produto de várias coisas mas também do nosso desleixo, da nossa omissão, da sua sobranceria, da sua demagogia... É daquelas criaturas que precisava de ir trabalhar nas obras, para poder matar a fome, para ver se aprendia a ter alguma humildade perante a vida e os outros. O tipo é perigoso. Porque a sabe toda e porque vivemos num tempo de desmobilização.

Nota: o título deste post é rebuscado, eu sei. Mas, acho interessante este significado da expressão "ser de Braga" - deixar as portas abertas.

19 março, 2007

É assim

Há uma velha frase (recordo de memória) que diz qualquer coisa como: não se deve voltar a um lugar onde se foi feliz.

15 março, 2007

Ciclos

Vai terminar um dos espaços (políticos, sociais, afectivos,...) onde nos últimos 20 anos me senti bem, muito aconchegada e privilegiada por poder aprender com pessoas que fazem parte de uma elite (entre outras coisas ética) desta cidade que me acolheu.
Também na chegada ao fim é preciso ter dignidade. E não deixar definhar um espaço de vivências superiores por inércia, preguiça ou apego descuidado. E coragem para avançar por caminhos actualizados, ainda que os horizontes se mantenham na linha dos ideais estabelecidos há muito.
Os meus votos para o futuro vão no sentido de que a soma das vontades se transforme em vector de realizações originais porque o futuro (a)vós, a vós, (`) a voz pertence.

14 março, 2007

"derivado a" e outras derivações

Ehehehe
No post anterior brinquei mesmo com a expressão "derivado a"... expressão que muito estimo (!) juntamente com outras, plenas de sabedoria popular, como por exemplo "controlar uma retunda"...Esta eu adooooooooro. Primeiro, porque se contorna muito melhor uma coisa que se controla e, depois, porque retunda, a bem dizer (!), aponta claramente uma primeira diferenciação no universo das vias de comunicação, muito útil para quem vai a conduzir num local que não conhece. C'os diabos, existe a REcta e a REtunda!!!!!
Ehehehehe
É melhor parar com este galope sobre as palavras e as expressões. Sim, logo eu que tenho andado cheiinha de parcimónia (também gosto de parcimónia eheheh).
Não, não tomei nada de anormal. É mesmo só efeito do sol que se instalou desde a semana passada.

A menina de sua mãe

Desde que começaram a vir a lume (hum gosto da expressão: vir a lume) casos de maus tratos, de mortes estranhas de crianças, etc...que se foi formando em mim uma convicção acerca dos "senhores da segurança social". Claro que sei que todas as generalizações são abusivas. Claro que sei que nunca estudei o assunto a fundo e me limito a intuir com base no que consigo perceber a partir da limitada informação que sai da comunicação social. Claro que....
Ressalvas feitas, o que ressalta da minha convicção acerca da Seg. Social? Um modo de funcionar burocrático e cheio de rodriguinhos pouco compatíveis com a natureza da função, com as características da actividade. Nota-se, nomeadamente pelos penteados das senhoras e pelas gravatas dos senhores. Que me lembram demasiado as alcatifas dos gabinetes e sugerem mais calos esferográficos nos dedos das mãos (agora mais calos computacionais) do que calos nos dedos dos pés e solas gastas onde as coisas acontecem (1). (É possível que o "sistema" estimule isto. Não digo que não.)

Então não é que a Segurança Social foi apanhada desprevenida com a rapidez da decisão do sistema judicial relativamente à menina raptada no Hospital de Penafiel?
...Que não pode ser assim... Que é uma família de risco... Que é preciso tempo...Que não estavam à espera de uma decisão tão rápida...
Mas não é uma família de risco desde há muito tempo? Não o sabem, pelo menos, desde que a menina foi raptada?
Será que uma mãe pobre sofre menos do que uma mãe que o não é?
Uma coisa é a entrada da menina na sua família não ser imediata porque é melhor para a menina fazer uma transição menos abrupta (e decerto a mãe sustem a sua angústia se isso for bom para a filha) outra coisa, bem diferente, é a menina não poder ir para a sua família porque é preciso tempo para criar condições de habitabilidade na casa, etc. etc. etc....

(1) Há um aspecto que eu sinto mas não sei explicar muito bem. Tem a ver com a formação inicial dos "técnicos" da Seg. Social e com a cultura que se vive nas instituições que ministram essa formação inicial. Mal seria que, de avanço em avanço para se formarem licenciados (leia-se Dr's) em escolas mui superiores em que os docentes têm de fazer carreira académica (huggggg), se chegasse a um conjunto de pessoas para quem o trabalho no campo... é desinteressante, suja muito e é desagradável, entre outras coisas "derivado" ao nível das pessoas com quem tem de se conversar.
Publish

08 março, 2007

Não sei titular isto (revisto, ou seja, com umas mudançazitas no visual)


Não percebo rigorosamente nada de economia nem de finanças. O mundo das acções, das bolsas.... aparece-me como qualquer coisa de que me sinto visceralmente afastada e incapaz de algum dia compreender. Porém, como qualquer acompanhador de telenovelas, fui seguindo (de longe, é óbvio) a odisseia da sonaecom na direcção (cavalgada) da PT. Lá ouvi o resultado final sem entusiasmos (se não compreendo como posso entusiasmar-me?). Contudo, qualquer coisa me chamou especialmente a atenção. A pressurosa afirmação de um Ministro a realçar a neutralidade do governo.

By the way
Eu não acredito em neutralidades. Acredito numa posição sensata que obriga a equidistâncias avaliativas, a ter em conta os diferentes pontos de vista. Acredito que é bom não ver o mundo a preto e branco. Creio que é igualmente útil não "emprenhar" pelos ouvidos. Aposto em cautelas de julgamentos e tomadas de posição. Mas, ponderado o que há que ponderar, não acredito mais em neutralidades. Mesmo que nos calemos... quando se calam umas coisas, promovem-se outras. (E entendo que muitas vezes o silêncio pode ser uma forma eloquente de tomar posição. Melhor dizendo, nem sempre é exigido muito barulho para que se tome posição).
Quando aparece o discurso da neutralidade recordo-me sempre de um amigo que há muitos muitos anos dizia acerca de um partido que, nesse tempo, fazia questão de se posicionar rigorosamente ao centro: "tão rigorosamente ao centro ... como o olho do...".

PS: Não, não me esqueci que hoje é dia internacional da mulher.

01 março, 2007

O real

"O real não nos basta. Sustenta-nos, impulsiona-nos, limita-nos, dá-nos asas, mas não nos chega. A inteligência inventa sem cessar possibilidades reais, que não são fantasias mas antes ampliações que a realidade admite quando a integramos nos nossos projectos. O mar, grande obstáculo, pode converter-se em meio de comunicação. E o leve ar pode suportar o nosso peso e nós podemos voar. A água do rio pode converter-se em luz e a imponente montanha em catedral. A realidade inteira fica suspensa à espera que o ser humano acabe por a trazer à luz.

...Conjugar a realidade e a possibilidade é a grande arte da invenção. A sua integração impede-nos de cair na mera fantasia."

in Ética para Náufragos de José Antonio Marina, 30/31