31 janeiro, 2012

o barato sai-nos muito caro




Garcia, Emilio
jumping brains
(esculturas em resina)





Sempre achei piada à designação "barata tonta" para nomear a agitação da incompetência desnorteada. Quando penso nos spin doctors belenenses imagino uma catrefada delas. Como a coisa corre de mal a pior, lá vem a escapadela de cernelha sob a forma de desmentido formal. A encarnação da sonhada troika caseira (um governo, uma maioria na AR e um presidente) está a dar um resultado verdadeiramente de estalo.

porque hoje é terça





Staël, Nicholas de
la seine
(1954)







Ana Moura & Patxi Andion, para além da saudade


Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

Lo que lloro es diferente
Está en el centro del alma
Mientras, en cielo silente
La nube se mece en calma

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Pero al fin, lo que es llanto
En esta triste amargura,
Vive en el cielo mas alto.
En la nostalgia mas pura.

No se lo que es, ni consiento / Não sei o que é nem consinto
Al alma saberlo bien. / À alma que o saiba bem.
Visto el dolor con que miento / Visto da dor com que minto
Dolor que en mi alma es ser. / Dor que a minha alma tem

Letra de Fernando Pessoa
Música de Patxi Andión
em "Para Além da Saudade"

28 janeiro, 2012

sábado de manhã (197)






Brâncuși, Constantin
the sleeping muse
(c. 1910)

27 janeiro, 2012

desatino

Juízo digno de sexta-feira ao fim da tarde:
Tal como o Costa Concordia, Portugal virou antes de ameaçar afundar. Entretanto, continuam as operações de trasfega a um bom ritmo.

25 janeiro, 2012

li verdade

Oh pah, onde estão as 50 pessoas que há mais ou menos um ano andavam roxinhas de falta de ar, asfixiadinhas de todo e fartas dos modelitos outono-inverno de tal modo que resolveram vestir-se de branco?

com censura








Kesrouani, Joe
censure
(2006)




100 sura. Uns nunca a conheceram, outros já estarão esquecidos dela.  Reaparece sempre sob novas formas. Não estavam à espera de a ver em tons de azul e formas de lápis Viarco, pois não? O que eu mais gosto nestas alturas é constatar que, nestas instituições, o planeamento é mesmo feito a tempo e horas e aos diferentes níveis. A única falha é que não informam os interessados. Está sempre tudo planeado há muiiiito, mas os interessados só sabem quando um deles se atreve a dar uma curva a uma velocidade que a direcção não aguenta.

24 janeiro, 2012

o presidente de Secunda






Secunda, Arthur
a troubled president




You may fool all the people some of the time, you can even fool some of the people all of the time, but you cannot fool all of the people all the time (Abraham Lincoln).
.
[Não sei se cito correctamente A.L., mas a ideia é esta. Parece que a película de celofane finalmente se rasgou. Fez ontem um ano que foi reeleito. Ainda faltam mais quatro. Balhamedeus.]

porque hoje é terça


Céu & Herbie Hancock, tempo de amor

23 janeiro, 2012

manhã de segunda, mas uma boa semana (87)






Loop, Williams Leota
heavenly blue morning glories



Gloriosa, poderosa e mais coisas terminadas em osa, como, por exemplo, amorosa, ditosa, vaidosa, cautelosa e proveitosa. Ah! refiro-me à semana. :))))

Né Ladeiras, sonho azul

21 janeiro, 2012

sábado de manhã (196)






Cotton, Will
candy sky study
(2005)

19 janeiro, 2012

aproveitamento [O Zeca Afonso que me perdoe]





Fernandes, Gustavo
nabo no pedestal 
2004






Zeca Afonso, menina dos olhos tristes

Ministro da fala triste
O que tanto o faz andar
O mercadinho não volta
Com novas p' ro alegrar

Vamos senhor pensativo
Olhe o tempo a passar
O mercadinho não volta
P´ra seus ditos confirmar

Senhor de meios cansados
Porque fatiga a sebenta
O mercadinho não volta
E há notícias de arrebenta

Nem fica triste consigo
Notação não o faz chorar
E o mercadinho não volta
Sem ser p'ra nos arrasar

Merkel sua comandante
é que o pode informar
Que o mercadinho na volta
Só lhe interessa o que restar.

Vem num pacote sinistro
Sem dignidade ou tostão
Pensa lá bem ó ministro
se terás algum perdão.

17 janeiro, 2012

porque hoje é terça







Jansons, Max
love
(2009)











Elis Regina, a noite do meu bem (em francês) 

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
quero a primeira estrela que vier
para enfeitar a noite do meu bem
Hoje eu quero paz de criança dormindo
quero o abandono de flores se abrindo
para enfeitar a noite do meu bem
Quero a alegria de um barco voltando
quero ternura de mãos se encontrando
para enfeitar a noite do meu bem
Hoje eu quero o amor, o amor mais profundo
eu quero toda beleza do mundo
para enfeitar a noite do meu bem
Mas como esse bem demorou a chegar
eu já nem sei se terei no olhar
toda ternura que eu quero lhe dar

16 janeiro, 2012

manhã de segunda, mas uma boa semana (86)






De Niro Sr., Robert
still life of fruit and flowers on a table
(1961)




Boa semana, com flores, frutos e tudo e tudo e tudo ...:)))

Rodrigo Leão, ventozela

[sim, o autor do quadro é pai do filho] :))

15 janeiro, 2012

há domingos assim (49)






Young, Dan
starry night in January



fique bem em tempo frio
e tempos de escuridão:
ouça de fio a pavio
a música aqui à mão.

George Winston, January stars 

Um bom dia do senhor para quem passa. :))) 

14 janeiro, 2012

sábado de manhã (195)







Heckel, Erich
schlafende Frau
(1922)

13 janeiro, 2012

descompassos







Boakye, Lynette Yiadom
politics
(2005)






De Merkozy a Merkoelho, passos de muito destrambelho.  (via FB)

12 janeiro, 2012

agasalho





Katz, Alex
january
(1993)



Janeiro quente traz o diabo no ventre.
[Ainda bem que o tempo arrefeceu porque de mafarricos estamos bem servidos, muito obrigada.] :)))

11 janeiro, 2012

racionar

racionar | v. tr.

racionar

v. tr.

1. Impor oficialmente ração a. [Quem manda, pode]

2. Distribuir (géneros) em rações.[ não confundir com divisão equitativa]

3. Limitar a quantidade de.[só tem quem paga]

Não me custa admitir que seja preciso algum racionamento, nomeadamente a propósito de alguns desmandos das imposições agressivas das indústrias ligadas à medicina.
Até me agradaria que se partisse para um paradigma mais preventivo, mais integrado, mais  preocupado com a promoção de qualidade de vida como um todo, em que os cuidados de saúde estariam ligados a cuidados gerais de bem estar das pessoas.
Bolas, o que não me passa pela cabeça é que racionar passe a significar que, a partir de certa idade, quem não tem $ não tem vícios, nomeadamente de hemodiálise. É preciso ser muito alienado para colocar a discussão nestes termos.

manhãs sem manha, com amanhã que se apanha







Parker, Erik
other side of morning
(2011)






Eric Clapton, early in the morning

A manhã parada
O azul.
A fundura da pupila.

Não é ainda a sede,
a matilha,
a febre.

O tronco nu -
a luz vacila.

Eugénio de Andrade, matéria solar, 10.

10 janeiro, 2012

Oh Aninhas, tu não te aninhes

Vou ficar a pensar no novo programa da SIC-N, moderado pela Ana Lourenço, Contracorrente. Este primeiro está a parecer-me, no mínimo, estranho. [Um exemplozinho: mal o António Vitorino arrancou claro e directo contra uma afirmação da Manuela Ferreira Leite, sobre tratamentos de saúde, mudou logo de assunto] [O conjunto dos convidados é muito catita: os já referidos, mais Manuel Sobrinho Simões, António Barreto e Francisco Balsemão]. Será que a Aninhas se aninha?

porque hoje é terça

Fausto, fascínio e sedução

e elas são muito luxuriosas
na sua lascívia
e muito se animam em gestos
por luxuriar
e transluzem
na dança das pernas
pela arte das mãos
os olhos que brilham e fitam
de alto a baixo
a questão
e deslizam no ventre
dos corpos suados
os dedos
se no deleite
era muito mais doce
essa consolação
que desenha
pela curva da coxa
a sombreada elegância
e a cor do meu e do seu
à mais curta distância
leve como um beijo
leve o seu bailar
quente o seu desejo
quente
quente como o ar
roda
vira
e mexe o seu colo
gira gira
como um pião
treme como a seda
pela palma da mão
serpenteia o seu ventre
e geme como o vento suão

09 janeiro, 2012

manhã de segunda, mas uma boa semana (85)







Valtat, Louis
bouquet d'anémones et jonquilles







Uma semana com as cores quentes e as formas doces dos afectos. :))

08 janeiro, 2012

há domingos assim (48)







Burchfield, Charles Ephraim
the window by the alley
(1917)



Um suave dia do senhor, com janelas para a lonjura, chão onde não há lugar para becos sem saída. :)))


[A música é surpresa para ouvir de olhos fechados] :)))

AS JANELAS

As janelas
por onde entram as silvas,
a púrpura pisada,
o aroma ds tílias, a luz
em declínio,
fazem deste abandono
uma beleza devastadora
e sem contorno.

Eugénio de Andrade, rente ao dizer, 40

07 janeiro, 2012

sábado de manhã (194)








Roussin, Georges
asleep in the studio
(1889)

06 janeiro, 2012

dia de reis






Reis Magos
(em porcelana chinesa, claro)




[Um bom dia de leis pala todos. Se não gostalem desta ilustlação, desliguem o computadole da colente pala deixalem de vêle. : )) ]

05 janeiro, 2012

Pedro Osório [1939-2011]

Uma das últimas terças-feiras coloquei aqui esta música do Pedro Osório.

03 janeiro, 2012

boas notícias





Guogu, Zhen
computer controlled by pig´s brain ( 2.2)
(2006)




 
Vejo, com satisfação, que os portugueses estão muito mais urbanos e cosmopolitas. 
  1. Centremo-nos, por exemplo, naquelas reportagens de rua que as tv's apresentam regularmente para ilustrarem a voz do povo sobre um assunto quente, num dado momento. Pois bem, muito ultimamente só vemos gente cordata, compreensiva, que reconhece os problemas, mas tem uma atitude construtiva.
  2. Sobressai, também, uma maior racionalidade dos comportamentos, nomeadamente na capacidade de planeamento e no olhar objectivo com que encaram o que é proposto. Por exemplo, nunca mais nasceram bebés em ambulâncias, a caminho da maternidade, com a mera ajuda de um bombeiro expedito, mas sempre atrapalhado. Também as aldeias do interior deixaram de se sentir orfãs das suas crianças que, transportadas em carrinhas próprias, frequentam escolas fora da sua rua e os autarcas não mais barafustaram contra mais este sinal de abandono do seu território interior.
  3. A calma é outra evidência deste modo comedido e civilizado de estar na vida. Não há retroescavadoras a rebentar caixas de multibanco, nem assaltos à mão armada que aticem reacções primárias e atribuam a culpa somente ao ministro do MAI, e berrem a consequente demissão, pois todos percebem que o contexto do crime mudou e que o policiamento presencial, feito por gente que come e tem família, pode bem ser substituído por uma boa videovigilância em cada esquina, muito mais limpa e sofisticada. 
  4. A lista reveladora deste súbito crescimento cívico podia ser mais longa mas o já dito parece suficiente para o revelar e, sobretudo, para mostrar o contraste enorme com a  gente esganiçada que costumava aparecer assaz descabelada, não há muito tempo, nas reportagens televisivas. Isto só pode ter que ver com um surto formativo extraordinário, que elevou muitíssimo os níveis de educação e de racionalidade do povo, num curto espaço de tempo.  
  5. Ah! E como se nota o elevado grau de aprendizagem das técnicas da prestidigitação traduzida nos modinhos daqueles que, neste momento, fazem o controlo e a vigilância de todos nós. Um descansinho.

porque hoje é terça


Simon and Garfunkel, the sound of silence

By the way: não há silêncio que tanto aguente, por isso é melhor irmos descortinando os sons necessários para virar este silêncio pesado contra a conversa que nos impõem.

02 janeiro, 2012

manhã de segunda, mas uma boa semana (84)







Hesson, Dyana
not the end, but the beginning









Jane Monheit, começar de novo

Grandeza do Homem 

Somos a grande ilha do silêncio de deus
Chovam as estações soprem os ventos
jamais hão-de passar das margens
Caia mesmo uma bota cardada
no grande reduto de deus e não conseguirá
desvanecer a primitiva pegada
É esta a grande humildade a pequena
e pobre grandeza do homem 

Ruy Belo, grandeza do homem
{relação, [aquele grande rio eufrates],
todos os poemas,Assírio e Alvim, 58}

By the way: A nossa perfeita imperfeição obriga-nos sempre a recomeçar. E é tão importante termo-nos uns aos outros. [Deu-me para a ética, podia dar-me para pior, não é?] :)))

01 janeiro, 2012

2012






Morris, Robert
blind time VI, moral void
(2000)



"Não existe, portanto, um nível definitivo de dignidade mas sim um progresso que, historicamente, se manifestou no reconhecimento dos direitos. Uma ética constituinte acolhê-los-á sem dúvida, mas mudando-lhes o sentido, porque os considerará compromissos e não leis físicas, ideias de um Eldorado inexistente. Ao clarificar as implicações desta expansão da justiça depararemos com uma surpresa. Pelo menos foi-o para mim. A ideia de justiça não me parece criadora. Na origem de todos os grandes avanços sociais houve sempre alguém que foi além da justiça. Que se esforçou mais do que lhe cabia. A expansão do universo da dignidade provém de um entusiasmo criador de valores, a que chamaria amor se esta palavra não estivesse absolutamente inutilizada para todo o discurso coerente. Este sentimento aparece como grande criador de valores éticos. Pertence ao momento inventivo da ética, que depois terá de ser corroborado e justificado pelos procedimentos racionais."
José Antonio Marina, Ética para Náufragos, Ed. Caminho 170

O que eu queria mesmo é que 2012 fosse o ano da ética ou mesmo das éticas [dada a complexidade do mundo e de acordo com a co-existência humana e desde que não se caia naquele relativismo em que mais vale assumir que vale tudo e ao valer tudo é o mesmo que não valer nada e o mais forte é que acaba por valer] .... mas eu sei que é pedir muito e tal...

Um ano bom, caríssimos vizinhos da blogosfera: :)))