Staël, Nicolas de
the sun
1953
O DEUS DO VERÃO
Chamar-te-ei deus porque és o meu desejo
e o meu desejo é o sol do ar, o sol do sol.
Sinto a febre fresca do teu hálito
na densa consciência deste verão.
Através da madeira ouço as vozes imóveis,
veladas, ao nível do silêncio.
Através de ti respiro na violência do calor
em que o sangue do tempo bate nas paredes.
Todas as figuras adormeceram no vazio.
Mas os teus mil ecos ressoam no sossego
e são eles que aprofundam esta câmara do estio.
Como tu concilias a solidão e a harmonia
e na vacuidade unificas as íntimas estrelas
com a surda veemência de um mundo submerso!
Ó transparente deus que sem estar estás
no sossego luminoso deste pequeno quarto
em que serena pulsa a verdade do ser vivo!
António Ramos Rosa in quinze poetas portugueses do séc. XX, selecção e prefácio de Gastão Cruz, 304
*(não confundir com habitação de verão)