Faz hoje um ano que eu e os meus irmãos resolvemos por termo ao travão que tornava a minha mãe renitente ao uso do telemóvel. Apesar da idade avançada, do conjunto de maleitas que a tem acometido, das teclas minúsculas do aparelho...como sempre em tudo na vida a minha mãe não teve grande dificuldade de adaptação. É certo que "estoirou" uns quantos euros inicialmente em experiências. Mas, nada de mais. Nada que qualquer um de nós não tenha feito quando começou a utilizar o aparelho há muitos anos atrás.
Mas... e os "mases" existem mesmo, a sua adaptação rápida (dadas as suas circunstâncias) não se coadunava com hipotéticos erros. Sejamos mais claros: mal o tlm retinia precipitava-se rapidamente para o aparelho. Ora, este empolgamento com a nova tecnologia, que lhe colocava os filhos e os netos mais à mão, não se podia compadecer com enganos. Muito menos com enganos cujo conteúdo eram mensagens enviadas por alguém que, no frémito de marcar o seu encontro (?!?!) digitava frases como: "então logo à noite sempre vamos jantar e.....!!!!".
Claro que lhe explicamos que era engano. Que nem sequer aparecia o número. Que estas coisas aconteciam. Pior era para quem estava à espera da mensagem que não a ia receber! Que não desse importância.
Desliguei-me completamente do assunto. O facto de vivermos longe uma da outra explica o facto de nunca mais me ter lembrado de tal coisa.
Já repararam que dia é hoje? 24 de Dezembro. Consoada. Família. Boas festas. E tal e tal e tal. Estamos todos em casa da minha irmã. As mensagens e os telefonemas sucedem-se nos tlm de cada um ao ritmo da família e dos amigos.
Ao fim de duas tias, volta a tocar o tlm da minha mãe. Por estar mais perto, pelo facto de lhe custar falar (teve um AVC) e porque o número não aparecia, atendi eu. Uma voz jovem e masculina do outro lado da linha pedia para falar com a Dona ... e dizia o nome correcto. Eu insisti em saber quem era.
_"Quero fazer-lhe uma surpresa".
_ Ok. Vou passar-lhe o tlm. (Ora bem, ela tem afilhados, gente que ajudou, familiares afastados que nós não conhecemos...).
_ "Mãe, há alguém que lhe quer fazer uma surpresa". (O "espírito" de natal é conforme a estes assomos).
Só lhe ouvia uns projectos de palavras, mal pronunciados, a tentar explicar que não, que não era pessoa do seu conhecimento. Que era nome que não lhe dizia nada.
Quando eu ia a "re-intervir" na cena, a criatura do outro lado já tinha desligado.
_Mãe, afinal que se passa?
Ela sorria um sorriso de menina, agora muito regular com as incapacidades da idade e dos problemas de saúde que tem tido e tartamudeava qualquer coisa que mal se percebia.
_Mãe? Quem era afinal?
E permanecia o sorriso inocente (de quem não sabe que podem existir enganos nos tlm e quem explore esses enganos) enquanto, com um ar entre o enternecido e o desligado conseguiu afirmar:
_Disse que era o Maurício.
Óh Maurício, bem se diz que o Natal é tempo de todas as solidões.
Bom Natal Maurício. Desejo-to eu e toda a minha família...
Mas... e os "mases" existem mesmo, a sua adaptação rápida (dadas as suas circunstâncias) não se coadunava com hipotéticos erros. Sejamos mais claros: mal o tlm retinia precipitava-se rapidamente para o aparelho. Ora, este empolgamento com a nova tecnologia, que lhe colocava os filhos e os netos mais à mão, não se podia compadecer com enganos. Muito menos com enganos cujo conteúdo eram mensagens enviadas por alguém que, no frémito de marcar o seu encontro (?!?!) digitava frases como: "então logo à noite sempre vamos jantar e.....!!!!".
Claro que lhe explicamos que era engano. Que nem sequer aparecia o número. Que estas coisas aconteciam. Pior era para quem estava à espera da mensagem que não a ia receber! Que não desse importância.
Desliguei-me completamente do assunto. O facto de vivermos longe uma da outra explica o facto de nunca mais me ter lembrado de tal coisa.
Já repararam que dia é hoje? 24 de Dezembro. Consoada. Família. Boas festas. E tal e tal e tal. Estamos todos em casa da minha irmã. As mensagens e os telefonemas sucedem-se nos tlm de cada um ao ritmo da família e dos amigos.
Ao fim de duas tias, volta a tocar o tlm da minha mãe. Por estar mais perto, pelo facto de lhe custar falar (teve um AVC) e porque o número não aparecia, atendi eu. Uma voz jovem e masculina do outro lado da linha pedia para falar com a Dona ... e dizia o nome correcto. Eu insisti em saber quem era.
_"Quero fazer-lhe uma surpresa".
_ Ok. Vou passar-lhe o tlm. (Ora bem, ela tem afilhados, gente que ajudou, familiares afastados que nós não conhecemos...).
_ "Mãe, há alguém que lhe quer fazer uma surpresa". (O "espírito" de natal é conforme a estes assomos).
Só lhe ouvia uns projectos de palavras, mal pronunciados, a tentar explicar que não, que não era pessoa do seu conhecimento. Que era nome que não lhe dizia nada.
Quando eu ia a "re-intervir" na cena, a criatura do outro lado já tinha desligado.
_Mãe, afinal que se passa?
Ela sorria um sorriso de menina, agora muito regular com as incapacidades da idade e dos problemas de saúde que tem tido e tartamudeava qualquer coisa que mal se percebia.
_Mãe? Quem era afinal?
E permanecia o sorriso inocente (de quem não sabe que podem existir enganos nos tlm e quem explore esses enganos) enquanto, com um ar entre o enternecido e o desligado conseguiu afirmar:
_Disse que era o Maurício.
Óh Maurício, bem se diz que o Natal é tempo de todas as solidões.
Bom Natal Maurício. Desejo-to eu e toda a minha família...
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