"Na nossa sociedade abundam venturosa e esmagadoramente as opiniões. Talvez prosperem tanto porque, segundo um repetido dogma que é o non plus ultra da tolerância para muitos, todas as opiniões são respeitáveis. Concordo sem vacilar que existem muitas coisas respeitáveis à nossa volta: a vida do próximo, por exemplo, ou o pão de quem trabalha para o ganhar, ou a cornadura de certos touros. Em contrapartida, as opiniões parecem-me tudo o que se queira menos respeitáveis: ao serem formuladas, saltam da disputa à palestra, à irrisão, ao cepticismo, e à controvérsia. Afrontam o descrédito e arriscam-se à única coisa que há de pior que o descrédito, a credulidade cega. Todas as opiniões são "discutíveis" e esta condição não encerra demérito, como costumam crer os que por vezes utilizam esta qualificativo para desacreditar as opiniões que não partilham ("isso que você disse é muito discutível"...). Se uma opinião não fosse discutível, deixaria de ser uma opinião para se converter num axioma ou num dogma. Mas a palavra "discutir" encerra um sentido mais forte do que o de um simples intercâmbio de pareceres; etimologicamente, quer dizer sacudir, derrubar, abanar algo para que demonstre se tem raízes sólidas ou até arrancá-lo do seu solo nutrício para que as mostre e possam ser comprovadas. É assim, sem dúvida, que há que proceder com as opiniões. Só as mais fortes devem sobreviver, quando consigam ganhar verificação que as legalize. Respeitá-las beatamente seria mumificá-las a todas por igual, tornando indescerníveis as que gozam de boa saúde graças à razão e à experiência das infectadas pela patetice pseudomística ou pelo delírio".
Fernando Savater in O meu dicionário de Filosofia pp.277/278
Eu voto SIM no próximo dia 11 de Fevereiro.
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