04 novembro, 2010

fábulas reais





Piene, Otto
ohne titel
(1966)





"No meio de grande alarido, o desfile começou. À passagem da carcaça pálida, adiposa e patriarcal do rei, toda a gente soltava sonoras exclamações de admiração e apreço pela beleza do fato novo. Toda a gente, excepto um garoto que exclamou:
- O rei vai nú!
O cortejo estacou. O rei deteve-se. Um sussurro percorreu a multidão, até que um camponês de reciocínio rápido gritou:
- Não vai nada. O rei vai apenas a preconizar uma nova forma de encarar as opções de indumentária!
Subiu no ar um coro de júbilo exalado pela multidão e toda a gente se desfez ali mesmo das suas roupas e dançou ao sol ao gosto da natureza. Daquele dia em diante, o país adoptou o vestuário facultativo e o alfaiate, privado do seu ganha-pão, meteu no saco agulhas e linha e nunca mais se ouviu falar dele."

James Finn Garner, o rei vai nu, histórias tradicionais politicamente correctas - contos de sempre nos tempos modernos, ed. gradiva, 18

8 comentários:

Maria de Fátima Filipe disse...

A carcaça pálida faz-me lembrar alguém...

Beijinho
:)))

Rogério G.V. Pereira disse...

Hoje nem a li, uma missão me fez vir aqui: Não sei se dá grande importância a selos, a prémios e prendas. Eu recebi um Prémio Dardos, com a condição de nomear alguém que acrescente valor na Web. Nomeei o seu blogue. Pode até não levar esse prémio, mas que o mereceu, mereceu. Digo eu!

Boa?

jrd disse...

Com excepção do alfaite, viveram todos felizes...na praia do Meco.

cristal disse...

E eu que lá me vou mais uma vez até aos trópicos venho aqui deixar umas palavritas. Tenho andado por aqui e pelos demais blogues com a mesma assiduidade mas com nenhuma vontade de deixar registo da presença. Pode ser que lá pelos trópicos, se a net ajudar, a vontade de escrever renasça. Adoro estes contos. Os meus netos já o têm mas quando eles puderem compreender, se eu ainda me lembrar hei-de contar-lhes as versões todas...

Sensualidades disse...

verdade na altura verdade agora

beijos
Paula

lino disse...

Por cá ainda algum miúdo há-de gritar: "o presidente leva a boca cheia de bolo rei" :))

Daniel Santos disse...

eu gostei.

Anónimo disse...

Aí está uma narrativa fantástica.
Surpreende.
É simples.
Permite tirar uma lição.

O Sasportes tem editado obras -- «Os Dias Contados» -- que são continuações de obras de outros autores editadas.

Leste os «Os Dias Contados?»

É fantástico.

Boa edição, Mdsol

(Ah! Evidentemente que tomei nota deste livro.)